Um ato é moral quando concorda com a lei divina, e não
com as leis da ciência, que, muitas vezes, são hipotéticas, pois toda ciência
progride, se desenvolve; enquanto a regra moral é de uma imutabilidade
completa, por que é divina.
Deus fez o homem e Deus fez a grande lei moral que é o
Decálogo. Como pode haver antagonismo entre a obra e o legislador? Toda moral
verdadeira nada tem a ver com a ciência, mas, sim, com a lei divina.
A lei divina domina a ciência, como a certeza
domina a dúvida, como o absoluto
domina o contingente e como o fato domina a hipótese.
As ciências dirigem-se à inteligência; a moral dirige-se
à vontade; ora, um ato da Inteligência é distinto de um ato da vontade. Nihil volitum, nisi praecognitum, dizem
os filósofos, A inteligência precede; a vontade segue, de modo que sem
consentimento voluntário e deliberado não há ato humano, ou ato moral, enquanto
pode haver ato da inteligência involuntário e indeliberado.
As
“imoralidades” da Bíblia (Labão e Jacó)
Alguns doutores em asnice gostam de “provar” algumas
imoralidades consentidas pela Bíblia, mas só provam sua ignorância religiosa.
Jacó pretendia casar-se com Raquel filha de Labão. O pai
enganou o pretendente e fê-lo casar com Lia, a filha mais velha, sobre o
pretexto que era costume casar em primeiro lugar as mais velhas.
Jacó ficou trabalhando mais sete anos para merecer a mão
de Raquel que muito amava; e depois deste tempo, recebera também Raquel como
esposa. Alguns doutores ficam escandalizados e exclamam: “Quanta imoralidade resume esta página”. Imoralidade em cabeça de
ignorante, não em espírito sensato e a par da história daquele tempo. A monogamia é doutrina primordial,
modificada depois do dilúvio por simples
tolerância e restabelecida por Jesus Cristo.
A poligamia existia, pois, no Antigo Testamento; era tolerada, não prescrita; como lemos no Êxodo, o texto que os
doutores deveriam ter lidos antes de gritarem pelas imoralidades da Bíblia: “Se lhe tomar outra (mulher), não diminuirá o
mantimento desta (da primeira) nem o seu vestido, nem a sua obrigação marital”
(Ex 21,10).
E ainda lemos no Deuteronômio: “Quando um homem tiver duas mulheres...” (Dt 21,15).
Tal era a lei dos judeus; não é a lei dos cristãos, pois
Cristo aboliu este ponto, restaurou o matrimônio na unidade e indissolubilidade
primitivas.
Ciente destes princípios, os acusadores compreenderão(se
é que querem compreender) que, não houve imoralidade por parte de Jacó, em casar-se
com a Filha mais nova Raquel) de seu sogro Labão.
Não valia a pena dar tão altos gritos por tão pouca
coisa. Só para manifestarem sua ignorância da lei antiga.
Mas tem mais outro “escândalo” para os doutores de alma
cândida a que tudo se escandaliza. Cada uma das duas esposas de Jacó quer ter
mais filhos que a outra, e daí novas cenas; entram em jogos as concubinas ou
servas das esposas.
Para nós tudo isso seria escandaloso, é certo; porém,
deve-se julgar os fatos conforme os tempos e os costumes; e os fatos antigos
não podem serem julgados pelo microscópio moderno, mas pela lei e tolerância
dos tempos primitivos.
Tal tolerância, para
facilitar e apressar o povoamento do universo, tolerava a bigamia e poligamia,
como vemos na lei de Moisés e nos costumes dos patriarcas.
Sendo tolerado, não há, pois, nenhuma imoralidade; pois
não há discrepância com a lei moral
divina.
A
continência em face da moral
É muito comum os “sábios” atuais atacarem a continência e
o celibato dos padres católicos. Para esses, um indivíduo em gozo pleno de sua
saúde e seguir o regime de continência, incide num grande delito moral e
sexual. A continência é uma espécie de degradação física, moral e mental do
indivíduo... um atentado inominável à biologia que um indivíduo de corpo sadio
e de espírito se submeta voluntariamente, oferecendo seu organismo a tão
nefanda obra de degradação, ou, como dizem, com garbo e ufania, de mortificação.
Para esses “sábios” o que leva os padres da Igreja se voltarem
voluntariamente à continência, e mesmo à mortificação a que procuram submeter o
corpo... é... intolerável, aberra de toda ética, é injustificável, é imoral.
Atenção doutores ao manicômio! Tal esforço pode abalar os
seus nervos, já fracos. Nos manicômios há raríssimos padres, mas há muitos que não gostaram nem gosta da
continência!
A
continência é uma virtude que os libertinos não sabem praticar,
naturalmente, que tal virtude é possível, e até útil; que favorece o pleno
desenvolvimento físico, moral e intelectual do homem.
Convém dizer que a Igreja católica entende-se por continência
a abstenção completa, no indivíduo normal, do exercício das suas funções
sexuais.
Para nós continência implica castidade e sem essa julgamo-la como uma utopia. Claro está,
portanto, que, por continente, não consideramos um indivíduo que, privando-se
do exercício normal das funções genitais, se entregue ao vício solitário
(masturbação) ou a outros piores.
A continência assim definida na sua, que abrange o
afastamento dos maus pensamentos, más intenções, profanação da vida, do ato
sexual, esta continência nunca trouxe e nunca trará inconveniente algum a quem
a pratica. “Nunca vi uma doença causada pela castidade”, disse o sábio
Mantegazza.
“Essa continência é uma virtude sublime que
eleva o homem acima de seu egoísmo, dando-lhe força para moderar e regular seu
apetite natural”, disse o doutor Mário de Vilhena (Continência e seu fator eugênico).
A
castidade é possível e útil
Ninguém pode citar uma única prova séria e fundada contra
esta asserção. A afirmação contrária é um preconceito anticientífico,
irreverente e blasfemo.
“Não venham dizer,
diz Gibergues, que a castidade é contra natureza. Também a obediência, a
paciência, a caridade, o trabalho, a fraternidade, todas essas admiráveis
virtudes são contrárias a natureza, contrária ao egoísmo de cada um. Mas são
belas, convenientes, necessárias; combatem os germes viciosos e os princípios
de morte, que existem entranhados na pobre natureza humana; e desenvolve todas
as aspirações nobres e generosas. Assim, a castidade.”
O dr. Luís Antunes Serra, professor da Universidade de
Coimbra disse: “Posso afirmar-vos que não
se lê em parte alguma da literatura médica, autenticamente científica, nada
absolutamente que vá de encontro a castidade.”
E tal já foi a opinião dos médicos sérios e
conscienciosos num tempo em que escutavam a voz da ciência e não a voz da
libertinagem. Em uma época sadia, em alguns países como a Holanda, as professoras
de instrução primária eram obrigadas ao celibato. Certa vez, o Conselho
municipal de Londres decidiu que as médicas não iam ser admitidas nos hospitais
da Inglaterra desde que venham a contrair o matrimônio.
E ninguém se escandalize, pois, o sábio médico George
Surbled não receia escrever: “O celibato,
por ser necessário, não pode ser nem impossível, nem perigoso”. E ao mesmo
tempo afirma: “Os males da incontinência,
são conhecidos, incontestados, mas os resultados ruins da castidade são
imaginários, são inventados” (Celibato
e Matrimônio).
Fonsagrives confirma escrevendo: “As estatísticas despidas de toda prevenção deixam ver que a continência
voluntária, em vez de ser perigosa, é antes a origem de grande vigor físico e
de grande energia moral”.
A
continência é o espantalho dos libertinos... e a glória dos
homens de caráter e de dignidade. O médico que ataca a continência dá prova
insofismável de sua nulidade e corrupção.
O doutor Paulo Good diz mais ou menos a mesma coisa.
Escreve: “Os que dizem o contrário fazem
pornografia médica, mas são indignos do nome de servidores da ciência”.
A
continência e o bom senso
Não é com talco ou pó de arroz que se enfeita a
inteligência, como se enfeita o rosto; precisamos um pouco de raciocínio, e não
de palavrório oco e altíssono, sobretudo uma obra que pretende ser científica
como a do doutor José de Albuquerque.
Temos no organismo humano diversas funções fisiológicas,
umas necessárias, outras úteis. Entre as necessárias figuram a digestão, a
absorção, a respiração, a circulação do sangue e da linfa. Entre as úteis
figuram a função dos sentidos e de geração.
Não discutimos das primeiras; o seu não funcionamento é
causa de certas moléstias e até de morte, porque todas são essenciais a vida.
Quanto as funções simplesmente úteis nenhum clínico pode
provar que o homem seja obrigado a fazer uso delas.
Vejo o que quero ver, e minha vida nada sofre, nem age
contra a ciência visual, se eu baixar os olhos diante daquilo que eu não quero
ver.
Ouvindo uma música agradável escuto; um ruído enervante
bate no tímpano: tapo os ouvidos e estes, nada perdem com isto.
Um cheiro agradável acaricia a pituitária olfativa,
cheiro; mas um cheiro nauseabundo atinge o olfato: tapo o nariz; e o organismo
olfativo nada sofre com isso.
E assim em diante com o paladar e o tato: nada sofre com
a abstenção ou o não exercício de seus respectivos órgãos.
As funções da geração são necessárias para procriação,
como os olhos para a vista, porém não são necessárias à vida, assim como os
olhos não são necessários para viver.
Ora, se não são necessárias para a vida pessoal, nenhum
inconveniente pode advir de seu não funcionamento, como nada advém do não
funcionamento dos outros órgãos simplesmente úteis.
Obviamente isso não é para todos. Nem todos são capazes
disso; porque lhes falta a fé e o amor a Deus, bases indispensáveis para
conservar-se continente e casto.
Degradação
e imoralidade
Depois do simples raciocínio do bom senso, sem recorrer
ainda as provas patológicas o raciocínio supra seria o suficiente para abater
as muralhas de seus castelos de erros e aberrações, e mostrar, claramente que a
continência é uma virtude sublime, em vez de ser, segundo os prostituídos, uma
degradação intolerável, injustificável e imoral!
O que é degradação intolerável, são os incentivos
eróticos, lúbricos e francamente imorais. Que pode haver de mais imoral que
estimular os instintos perversos da humanidade, acariciar inclinações sensuais
e fazer acreditar que o homem não passa de um animal? O
animal segue o instinto da sua natureza; os homens deve seguir a lei de seu
Criador e não o apetite desordenado de gozo e prazer.
O que é imoralíssimo,é querer tirar da frente do homem o
que ele tem de mais nobre, de mais sublime: o ideal de uma vida espiritual. O
homem sem ideal é um retrógrado, um homem sem religião é um monstro, o homem sem moral é um animal.
Desgraçadamente “cientistas” têm coragem de rebaixar o
homem em nome da ciência; e de fazer acreditar ao público que uma virtude que não são capazes de praticar
seja impraticável por todos.
Conclusão
A ciência deve por fim aperfeiçoar, elevar e enobrecer o
homem, como a moral tem por fim arrancar o homem da tríplice concupiscência que
ferve em suas veias, e que São João chama muito bem: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o orgulho da
vida (1 Jo 2, 16).
Tudo o que rebaixa o homem em sua alma, em sua
inteligência ou em seu corpo, é imoralidade.; como tudo o que desvia da vontade
é ignorância ou mentira.
A ciência moderna, sem moral (indigna deste nome), não é
ciência, é aviltamento, é degradação; como a moral é exposta é uma moral de animal e não de homem. O animal é dirigido
pelo instinto da natureza; o homem deve ser dirigido pela lei divina e pela sua
consciência, e não simplesmente pela natureza.
Deus criou o homem aperfeiçoável. Et erunt omnes docibilis Dei (Jo 6, 45), devendo perfeição de sua
vida, como filho de Deus e herdeiro do céu.
Se o homem pode apenas e deve simplesmente seguir o seus
instintos, as suas inclinações naturais, em que e como poderá ele
aperfeiçoar-se?
Evitando o mal? Isto é apenas o lado negativo de nossa
vida: Declina a malo ET fac bonum (Sl
36, 27).
O lado positivo é: fazer o bem. Este bem é a luta contra
as inclinações perversas, fruto do pecado original; é, sobretudo, a continência, a castidade, a prática de
uma virtude celestial que faz de um homem um anjo, enquanto o vício oposto faz
dele um demônio.
Fonte:
O Anjo das trevas – Pe. Júlio Maria (com adaptações do blog Roma de Sempre).
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