sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Continência, ciência e moral


 

Um ato é moral quando concorda com a lei divina, e não com as leis da ciência, que, muitas vezes, são hipotéticas, pois toda ciência progride, se desenvolve; enquanto a regra moral é de uma imutabilidade completa, por que é divina.

Deus fez o homem e Deus fez a grande lei moral que é o Decálogo. Como pode haver antagonismo entre a obra e o legislador? Toda moral verdadeira nada tem a ver com a ciência, mas, sim, com a lei divina.

A lei divina domina a ciência, como  a certeza domina a dúvida, como o absoluto domina o contingente e como o fato domina a hipótese.

As ciências dirigem-se à inteligência; a moral dirige-se à vontade; ora, um ato da Inteligência é distinto de um ato da vontade. Nihil volitum, nisi praecognitum, dizem os filósofos, A inteligência precede; a vontade segue, de modo que sem consentimento voluntário e deliberado não há ato humano, ou ato moral, enquanto pode haver ato da inteligência involuntário e indeliberado.

 

As “imoralidades” da Bíblia (Labão e Jacó)

 

Alguns doutores em asnice gostam de “provar” algumas imoralidades consentidas pela Bíblia, mas só provam sua ignorância religiosa.

Jacó pretendia casar-se com Raquel filha de Labão. O pai enganou o pretendente e fê-lo casar com Lia, a filha mais velha, sobre o pretexto que era costume casar em primeiro lugar as mais velhas.

Jacó ficou trabalhando mais sete anos para merecer a mão de Raquel que muito amava; e depois deste tempo, recebera também Raquel como esposa. Alguns doutores ficam escandalizados e exclamam: “Quanta imoralidade resume esta página”. Imoralidade em cabeça de ignorante, não em espírito sensato e a par da história daquele tempo. A monogamia é doutrina primordial, modificada depois do dilúvio por simples tolerância e restabelecida por Jesus Cristo.

A poligamia existia, pois, no Antigo Testamento; era tolerada, não prescrita;      como lemos no Êxodo, o texto que os doutores deveriam ter lidos antes de gritarem pelas imoralidades da Bíblia: “Se lhe tomar outra (mulher), não diminuirá o mantimento desta (da primeira) nem o seu vestido, nem a sua obrigação marital” (Ex 21,10).

E ainda lemos no Deuteronômio: “Quando um homem tiver duas mulheres...” (Dt 21,15).

Tal era a lei dos judeus; não é a lei dos cristãos, pois Cristo aboliu este ponto, restaurou o matrimônio na unidade e indissolubilidade primitivas.

Ciente destes princípios, os acusadores compreenderão(se é que querem compreender) que, não houve imoralidade por parte de Jacó, em casar-se com a Filha mais nova Raquel) de seu sogro Labão.

Não valia a pena dar tão altos gritos por tão pouca coisa. Só para manifestarem sua ignorância da lei antiga.

Mas tem mais outro “escândalo” para os doutores de alma cândida a que tudo se escandaliza. Cada uma das duas esposas de Jacó quer ter mais filhos que a outra, e daí novas cenas; entram em jogos as concubinas ou servas das esposas.

Para nós tudo isso seria escandaloso, é certo; porém, deve-se julgar os fatos conforme os tempos e os costumes; e os fatos antigos não podem serem julgados pelo microscópio moderno, mas pela lei e tolerância dos tempos primitivos.

Tal tolerância, para facilitar e apressar o povoamento do universo, tolerava a bigamia e poligamia, como vemos na lei de Moisés e nos costumes dos patriarcas.

Sendo tolerado, não há, pois, nenhuma imoralidade; pois não há discrepância com a lei moral divina.

 

A continência em face da moral

 

É muito comum os “sábios” atuais atacarem a continência e o celibato dos padres católicos. Para esses, um indivíduo em gozo pleno de sua saúde e seguir o regime de continência, incide num grande delito moral e sexual. A continência é uma espécie de degradação física, moral e mental do indivíduo... um atentado inominável à biologia que um indivíduo de corpo sadio e de espírito se submeta voluntariamente, oferecendo seu organismo a tão nefanda obra de degradação, ou, como dizem, com garbo e ufania, de mortificação.

Para esses “sábios” o que leva os padres da Igreja se voltarem voluntariamente à continência, e mesmo à mortificação a que procuram submeter o corpo... é... intolerável, aberra de toda ética, é injustificável, é imoral.

Atenção doutores ao manicômio! Tal esforço pode abalar os seus nervos, já fracos. Nos manicômios há raríssimos padres, mas há muitos que não gostaram nem gosta da continência!

A continência é uma virtude que os libertinos não sabem praticar, naturalmente, que tal virtude é possível, e até útil; que favorece o pleno desenvolvimento físico, moral e intelectual do homem.

Convém dizer que a Igreja católica entende-se por continência a abstenção completa, no indivíduo normal, do exercício das suas funções sexuais.

Para nós continência implica castidade e sem essa julgamo-la como uma utopia. Claro está, portanto, que, por continente, não consideramos um indivíduo que, privando-se do exercício normal das funções genitais, se entregue ao vício solitário (masturbação) ou a outros piores.

A continência assim definida na sua, que abrange o afastamento dos maus pensamentos, más intenções, profanação da vida, do ato sexual, esta continência nunca trouxe e nunca trará inconveniente algum a quem a pratica. “Nunca vi uma doença causada pela castidade”, disse o sábio Mantegazza.

Essa continência é uma virtude sublime que eleva o homem acima de seu egoísmo, dando-lhe força para moderar e regular seu apetite natural”, disse o doutor Mário de Vilhena (Continência e seu fator eugênico).

 

A castidade é possível e útil

 

Ninguém pode citar uma única prova séria e fundada contra esta asserção. A afirmação contrária é um preconceito anticientífico, irreverente e blasfemo.

Não venham dizer, diz Gibergues, que a castidade é contra natureza. Também a obediência, a paciência, a caridade, o trabalho, a fraternidade, todas essas admiráveis virtudes são contrárias a natureza, contrária ao egoísmo de cada um. Mas são belas, convenientes, necessárias; combatem os germes viciosos e os princípios de morte, que existem entranhados na pobre natureza humana; e desenvolve todas as aspirações nobres e generosas. Assim, a castidade.”

O dr. Luís Antunes Serra, professor da Universidade de Coimbra disse: “Posso afirmar-vos que não se lê em parte alguma da literatura médica, autenticamente científica, nada absolutamente que vá de encontro a castidade.”

E tal já foi a opinião dos médicos sérios e conscienciosos num tempo em que escutavam a voz da ciência e não a voz da libertinagem. Em uma época sadia, em alguns países como a Holanda, as professoras de instrução primária eram obrigadas ao celibato. Certa vez, o Conselho municipal de Londres decidiu que as médicas não iam ser admitidas nos hospitais da Inglaterra desde que venham a contrair o matrimônio.

E ninguém se escandalize, pois, o sábio médico George Surbled não receia escrever: “O celibato, por ser necessário, não pode ser nem impossível, nem perigoso”. E ao mesmo tempo afirma: “Os males da incontinência, são conhecidos, incontestados, mas os resultados ruins da castidade são imaginários, são inventados” (Celibato e Matrimônio).

Fonsagrives confirma escrevendo: “As estatísticas despidas de toda prevenção deixam ver que a continência voluntária, em vez de ser perigosa, é antes a origem de grande vigor físico e de grande energia moral”.

A continência é o espantalho dos libertinos... e a glória dos homens de caráter e de dignidade. O médico que ataca a continência dá prova insofismável de sua nulidade e corrupção.

O doutor Paulo Good diz mais ou menos a mesma coisa. Escreve: “Os que dizem o contrário fazem pornografia médica, mas são indignos do nome de servidores da ciência”.

 

A continência e o bom senso

 

Não é com talco ou pó de arroz que se enfeita a inteligência, como se enfeita o rosto; precisamos um pouco de raciocínio, e não de palavrório oco e altíssono, sobretudo uma obra que pretende ser científica como a do doutor José de Albuquerque.

Temos no organismo humano diversas funções fisiológicas, umas necessárias, outras úteis. Entre as necessárias figuram a digestão, a absorção, a respiração, a circulação do sangue e da linfa. Entre as úteis figuram a função dos sentidos e de geração.

Não discutimos das primeiras; o seu não funcionamento é causa de certas moléstias e até de morte, porque todas são essenciais a vida.

Quanto as funções simplesmente úteis nenhum clínico pode provar que o homem seja obrigado a fazer uso delas.

Vejo o que quero ver, e minha vida nada sofre, nem age contra a ciência visual, se eu baixar os olhos diante daquilo que eu não quero ver.

Ouvindo uma música agradável escuto; um ruído enervante bate no tímpano: tapo os ouvidos e estes, nada perdem com isto.

Um cheiro agradável acaricia a pituitária olfativa, cheiro; mas um cheiro nauseabundo atinge o olfato: tapo o nariz; e o organismo olfativo nada sofre com isso.

E assim em diante com o paladar e o tato: nada sofre com a abstenção ou o não exercício de seus respectivos órgãos.

As funções da geração são necessárias para procriação, como os olhos para a vista, porém não são necessárias à vida, assim como os olhos não são necessários para viver.

Ora, se não são necessárias para a vida pessoal, nenhum inconveniente pode advir de seu não funcionamento, como nada advém do não funcionamento dos outros órgãos simplesmente úteis.

Obviamente isso não é para todos. Nem todos são capazes disso; porque lhes falta a fé e o amor a Deus, bases indispensáveis para conservar-se continente e casto.

 

Degradação e imoralidade

 

Depois do simples raciocínio do bom senso, sem recorrer ainda as provas patológicas o raciocínio supra seria o suficiente para abater as muralhas de seus castelos de erros e aberrações, e mostrar, claramente que a continência é uma virtude sublime, em vez de ser, segundo os prostituídos, uma degradação intolerável, injustificável e imoral!

O que é degradação intolerável, são os incentivos eróticos, lúbricos e francamente imorais. Que pode haver de mais imoral que estimular os instintos perversos da humanidade, acariciar inclinações sensuais e fazer acreditar que o homem não passa de um animal?  O animal segue o instinto da sua natureza; os homens deve seguir a lei de seu Criador e não o apetite desordenado de gozo e prazer.

O que é imoralíssimo,é querer tirar da frente do homem o que ele tem de mais nobre, de mais sublime: o ideal de uma vida espiritual. O homem sem ideal é um retrógrado, um homem sem religião é um monstro, o homem sem moral é um animal.

Desgraçadamente “cientistas” têm coragem de rebaixar o homem em nome da ciência; e de fazer acreditar ao público que uma virtude que não são capazes de praticar seja impraticável por todos.

 

Conclusão

 

A ciência deve por fim aperfeiçoar, elevar e enobrecer o homem, como a moral tem por fim arrancar o homem da tríplice concupiscência que ferve em suas veias, e que São João chama muito bem: a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o orgulho da vida (1 Jo 2, 16).

Tudo o que rebaixa o homem em sua alma, em sua inteligência ou em seu corpo, é imoralidade.; como tudo o que desvia da vontade é ignorância ou mentira.

A ciência moderna, sem moral (indigna deste nome), não é ciência, é aviltamento, é degradação; como a moral é exposta é uma moral de animal e não de homem. O animal é dirigido pelo instinto da natureza; o homem deve ser dirigido pela lei divina e pela sua consciência, e não simplesmente pela natureza.

Deus criou o homem aperfeiçoável. Et erunt omnes docibilis Dei (Jo 6, 45), devendo perfeição de sua vida, como filho de Deus e herdeiro do céu.

Se o homem pode apenas e deve simplesmente seguir o seus instintos, as suas inclinações naturais, em que e como poderá ele aperfeiçoar-se?

Evitando o mal? Isto é apenas o lado negativo de nossa vida: Declina a malo ET fac bonum (Sl 36, 27).

O lado positivo é: fazer o bem. Este bem é a luta contra as inclinações perversas, fruto do pecado original; é, sobretudo, a continência, a castidade, a prática de uma virtude celestial que faz de um homem um anjo, enquanto o vício oposto faz dele um demônio.

 

Fonte: O Anjo das trevas – Pe. Júlio Maria (com adaptações do blog Roma de Sempre).

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