Da
Quarta-feira de cinzas ao Domingo da Paixão
EXPOSIÇÃO DOGMÁTICA: O
tempo da Septuagésima já nos demonstrou a necessidade de nos unirmos,
pelo espírito de penitência, à obra redentora do Salvador. Pelo jejum e outros
exercícios de penitências, a Quaresma vai associar-nos a Ele de maneira
efetiva. Mas não há Quaresma que valha, sem esforço pessoal de retificação da
vida e de a viver com mais fidelidade, reparando, por qualquer privação
voluntária, as negligências de outros tempos. Paralelamente a este esforço, que
exige de cada um de nós, a Igreja ergue diante de Deus a cruz de cristo, o Cordeiro de Deus, que tomou sobre Si os
pecados dos homens, e que é o verdadeiro preço na nossa Redenção. À medida que
nos aproximamos da Semana Santa, o pensamento da Paixão tornar-se-á
predominante, até chegar o momento de pender por completo a nossa atenção. Já
desde o começo da Quaresma, ela nos está presente, e é em união com os
sofrimentos de Cristo que o exército cristão vai entregar-se à <<santa
quarentena>>, indo ao encontro da Páscoa com a alegre certeza de
partilhar da Ressurreição do Senhor.
OBS: A
prática de celebrar-se o Tempo da Septuagésima foi suprimida do rito romano da Igreja
Católica, a partir da reforma (destruidora) litúrgica do Concílio Vaticano II ,
que integrou-o no tempo comum que se segue à Epifania. Esta prática está
mantida na forma extraordinária do rito romano.
<<Eis o tempo favorável, eis os dias da
salvação>>. A Igreja apresenta-nos a Quaresma nos mesmos termos com que a
apresentava outrora aos catecúmenos e aos penitentes públicos, que se
preparavam para as graças pascais do batismo e da reconciliação sacramental.
Para nós, como para eles, a Quaresma deve ser
um longo retiro, um treino, em que a Igreja nos exercita na prática de
uma vida cristã mais perfeita. Aponta-nos o exemplo de Jesus e, através do
jejum e da penitência, associa-nos aos seus sofrimentos, para nos fazer
particular da Redenção.
Lembremo-nos que não estamos isolados, nem somos os
únicos em causa nesta Quaresma, que ora se empreende. É todo o mistério da
Redenção que a Igreja põe em ação. Fazemos parte dum conjunto imenso, em que
somos, solidários de toda a humanidade resgatada por Jesus Cristo. A liturgia
do tempo não se cansará de o recordar. Nas matinas dos domingos, as lições do Antigo
Testamento, começadas na Septuagésima, continuam a lembrar, a largos traço, a
história do povo judeu, em que se consignam os afastamentos de Esaú em benefício
de Jacó (não é a linhagem terrestre, mas a escolha gratuita, agora estendida a
todas as nações, que faz os eleitos); José, vendido por seus irmãos, e salvando
o Egito, é Jesus salvando o mundo, depois de ser rejeitado e traído pelos seus;
Moisés, que arranca o seu povo à escravidão e o conduz à terra prometida, é
Jesus que nos liberta do cativeiro do pecado e abre as portas do Céu. Os
evangelhos não são menos eloquentes: a narrativa da tentação de Jesus, mostra o
segundo Adão, novo chefe da humanidade, a contas com as astúcias de Satanás,
mas esmagando-o com seu poder divino; a parábola do homem armado e expulso, por
um mais forte, do domínio que usurpara, é ainda afirmação da vitória de Cristo.
Tal é o sentido da nossa Quaresma: um tempo de
aprofundamento espiritual, em união com a Igreja inteira, que se prepara para a
celebração do mistério pascal. Todos os anos, a exemplo de Cristo, seu chefe, o
povo cristão, num esforço renovado, retoma a luta contra a maldade, contra
Satanás e o homem de pecado, que cada qual arrasta em si mesmo, para haurir, na
Páscoa, um suplemento de vida, renovada nas próprias fontes da vida divina, e
continuar a marcha para o Céu.
APONTAMENTOS DE LITURGIA. O Tempo de Quaresma começa na
Quarta-Feira de Cinzas e termina no Sábado Santo. Os últimos quinze dias deste
longo período constituem o tempo da Paixão. Outrora, a Quaresma começava no
primeiro domingo, mas os dias que o precedem foram acrescentados para perfazer os quarentas dias de jejum. De contrário,
ficaria apenas trinta e seis, visto não
se jejuar aos domingos.
O jejum de quarenta dias, <<inaugurados pela Lei e
pelos Profetas, e consagrado pelo próprio Cristo>>, foi sempre uma das
práticas essenciais da Quaresma. A liturgia a ele alude constantemente, e o
prefácio do Tempo recorda-o todos os dias.
Mas o jejum irá de par com a oração. Como todos os
exercícios penitenciais da Quaresma, é oferecido a Deus em união com o
sacrifício do Salvador, diariamente renovado na Santa Missa. Cada dia da
Quaresma tem missa própria, devido ao fato de outrora toda a comunidade cristã
de Roma assistir diariamente à Santa Missa, durante esta quadra. Daí o
indicar-se a <<estação>>, a Igreja em que se celebrava, nesse dia,
a missa da comunidade romana.
Todas as missas feriais incluem, depois da pós-comunhão,
uma <<oração sob o povo>>, precedido dum convite à penitência e à
humildade: <<Baixai vossas cabeças diante de Deus.>> O caráter
penitencial é acentuado pelo silêncio do órgão. Os paramentos são roxos. À 2ª ,
4ª e 6ª feiras repete-se o trato da Quarta-Feira de Cinzas: <<Senhor não
nos trateis conforme merecem os nossos pecados...>>
Missal
Romano Quotidiano.
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