Mas não é
para grande número de criança a primeira comunhão a única munificência de Deus
neste dia bendito. A confirmação esta outra maravilha do seu amor, este outro
canal dos seus benefícios, este outro amparo da nossa franqueza; a Confirmação
vem corroborar e concluir a obra começada pela Eucaristia. O Espírito Santo
quer selar o coração em quem entrou Jesus Cristo; vínculo de amor entre o Pai e
o Filho, deseja também sê-lo entre o Filho e a alma. Chega para enchê-la desse
amor que é o único puro, que é o único santo, que é o único grande; desse amor,
perfeição do cristianismo e o próprio cristianismo; porque, da parte de Deus,
produziu a redenção com as suas ignomínias e seus esplendores; e, toda a
verdade que apareceu na terra.
Este amor
sagrado da àquele a quem penetra sabedoria, inteligência, força e até a ciência
de Deus; aconselha-o, inspira-lhe a verdadeira piedade, o único temor saudável.
Estes são, com efeito, os magníficos presentes, os sete dons que vem trazer à alma
o Espírito Santo, e para reunir todos, basta nomear aquele de que todos emanam:
o amor de Deus, a caridade.
Eis aí porque
julgou a Igreja, sabia, - e até diria razoável em tudo, se não soubesse que
todas as suas inspirações provem da loucura da cruz, - distribuiu no mesmo dia
e à mesma alma os seus mais ricos tesouros: a Confirmação e a Eucaristia. Eis
aí porque pensou que podia a mesma preparação levar à Eucaristia que,
obra-mestra do amor, proporciona as suas doçuras, e conduz à Confirmação,
consagração do amor e sagrado manancial em que se adquire o seu valor.
Só é sólido um império, disse Sêneca, quando tem por base o amor. Este pensamento por desgraça, bela
utopia frequente em política, é em religião a mais perfeita exatidão. E como
poderia ser de outro modo? Deus é amor
(São João)! Ele mesmo, pois, quer servir de alicerce a este edifício interior,
cuja construção está obrigado a adiantar diariamente todo cristão; ele mesmo é
a base deste império que só é duradouro, apoiado nele, sustentado por ele e
governado por ele.
Bem o sabe a
Igreja; sabe que é sempre este sentimento do amor o primeiro obstáculo da
virtude quando ele não é o seu primeiro mobil, e por isso é que na aurora da
vida, no momento em que se assentam os
alicerce, e que se forma o homem interior; no momento dessa adolescência
indecisa e agitada, joguete do sopro das paixões nascentes, que vacila ao sabor
delas, busca um apoio e cai se não o encontra bastante sólido; neste instante
importante e decisivo, reúne os seus esforços, benefícios e prodígios, para
assentar esta pedra angular do amor de Deus contra a qual nuca prevalecem as
portas do inferno.
Muitas vezes
no espaço de vinte e quatro horas, recebe a criança os três sacramentos;
Penitência, Eucaristia e Confirmação. Teve apenas tempo para respirar e
exclamar: A minha alma glorifica ao
Senhor e meu espírito está arrebatado de alegria (São Lucas)! Quando um
novo favor, sucedendo ao primeiro, a vem derribar, como outrora ao Apóstolo das
nações, para que diga ao levantar-se: Senhor!
Que quereis que faça? (Atos dos Apóstolos)E para que possa também fazer
este magnífico desafio às aflições, às
perseguições, à fome, à nudez, aos perigos, à violência, às potestades, às
coisas presentes e futuras: quem me separará do amor de Jesus Cristo (São
Paulo)?
E se,
açoitada pelas tempestades das suas paixões, atraída pelos encantos do mundo,
fatigada pela rebelião dos sentidos, deixar escapar o seu peito oprimido este
clamor de aflição: Quão desgraçado sou!
Quem me livrará deste corpo mortal (São Paulo)? Lhe responderá uma voz
interior: Será a graça de Deus por Jesus
Cristo. É para ela uma verdade demasiado certa que morremos com Jesus Cristo, viveremos também com ele; que sofreremos
com Jesus Cristo, reinaremos também com ele; mas que se renunciarmos a ele,
também ele renunciará a nós. E como foi alistada no serviço de Deus, como prometeu ser um bom soldado de Jesus Cristo, como foi alimentada do autor de todo dom perfeito e cheia de
seus preciosos dons, não é ela quem vive
mas Jesus Cristo que vive nela. Sim, esta criança transformada ver-se-á
talvez perseguida por todas as espécies
de aflições, mas não será oprimida por ela, porque pode tudo naquele que a
fortalece; sabe que as dores desta vida não tem proporção alguma com o peso
imenso da glória de Deus lhe prepara, e que quanto maior parte tivermos nos
sofrimentos de Jesus Cristo, tanto maior a teremos também nas suas consolações.
Com efeito, tudo é dela, desde o dia
em que se deu a ela Deus; mas também ela
é de Jesus Cristo e Jesus cristo é de Deus! Ah! Jesus Cristo é a nossa paz! Ele é quem de dois faz um só
comunicando-se a nós, incorporando-se consigo. Ele destruiu um muro de separação entre o céu e a terra, entre o
nada e a imensidão, entre a alma degenerada da criança e a suprema santidade d’Aquele que é.
Estes sublimes
pensamentos são o magnífico séquito de Jesus Cristo e do Espírito Santo no dia
em que entram, em nome do Padre, numa alma fervente e pura; depositando-se nela
como outros tantos preciosos germens cujo constante desenvolvimento deve ao
mesmo tempo ampliá-los e iluminá-los. Grandes e santos pensamentos, Deus meu!
Fecundos troncos cujos ramos abrigarão toda a vida da criança e a alimentarão
com seus frutos, sempre maduros, porque não
vive só de pão.(São Mateus).
OBS: “A
religião é a que semeia os grandes pensamentos no entendimento e os nobres
sentimentos no coração. Sem ela se debilitam os caracteres, se comprimem as
almas e se acanham as inteligências”, nos diz o sr. Padre Dourif; porém os
sacramentos são os agentes diretos da religião para depositar aquelas sementes,
e o cristianismo sem sacramentos nada desenvolve.
Ah! Recorda
com frequência à menina, durante os anos que seguirem, o fervoroso e prático
reconhecimento prometido ao Deus da Eucaristia; mantém os sentimentos de piedade
e de horror ao mal, suscitados nela durante a preparação e confirmados pela
primeira comunhão. Desde aquele instante já não a trate como criança; fala com
ela de coisas sérias, e discorrei até, pois já está bastante adiantada para o
fazer, mas não para fazer bem se a deixares só. Além disso é este o momento de
lhe cultivar ativamente a inteligência por meio da instrução; e já não tem os
estudos profanos o mesmo perigo para a menina assim aromatizada, segundo a
expressão de Bacon, ou, falando como o conde de Maistre, assim impregnada de
religião.
Porém, assim
como antes da primeira comunhão, tem deveres que cumprir, mãe cristã, e por
isso não adormeça tranquilizada com demasiada facilidade a respeito do futuro
pelo resultado do passado. Vela, obra, ora, treme sempre e espera muito. Não
deixes tu a quem chame um padre da Igreja o sacerdote da família, introduzir-se
na alma dos teus fiéis o desgosto das práticas piedosas; realizai-a ainda
juntas se é possível; e mantém o fogo sagrado com zeloso e assíduo cuidado.
Todavia zela também para que não obrigue um momento de entusiasmo piedoso, de
fervor passageiro e exaltado a fazer a estas jovens cristãs mais do que lhes
permitiam a sua posição, as suas forças, e até algum dia a sua vontade.
Não permitas
que em torno de ti se descuidem de colher o maná incorruptível, o pão dos céus,
sem o qual se morre de debilidade e de fome no campo de Israel. Se desaparece a
regularidade na frequência dos sacramentos, se se passam os meses neste fatal
letargo, recorda primeiro indiretamente a tua filha os teus deveres; mas se não
bastam os meios indiretos, emprega os diretos; e sem a constranger, porque não
recebe de Deus homenagens forçadas, renova-lhes as recomendações já feitas;
mostra-lhes o perigo duma negligência sempre seguida doutra, e cujo resultado
final é essa tibieza que Deus rejeita e amaldiçoa. Prega com o exemplo
propondo-lhes irem juntas a receber o
Deus da sua primeira comunhão; mostra-te tão
penetrada como indiferente ela parece; fala-lhe essa linguagem do
coração, especialmente revelada à mãe, e veras derreter-se pouco a pouco o gelo
e não a enganará a recordação, objeto da
vossa esperança (Jeremias).
Fonte: A mulher cristã desde o nascimento até a morte – Mme.
M. de Marcey
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