quarta-feira, 17 de maio de 2017

Fátima na encruzilhada da história da modernidade (II)




Procuramos no artigo anterior que falou sobre os aniversários que nos lembramos neste ano (Reforma Protestante, Maçonaria, Revolução Bolchevique) mostrar como se vem acelerando os tempos de cada uma dessas revoluções que transformaram o mundo ocidental ... 1517, 1717, 1917. Vamos tentar mostrar agora o que as aparições de Fátima, o quarto dos centenários que lembramos, como o remédio e resposta a essas revoluções.
Fátima é apresentado, então, como o aviso e remediar esses males. Por que Fátima está na encruzilhada da história moderna.

100 anos de Fátima: O Remédio

Como sabemos, o significado da mensagem de Fátima é tríplice, já que nos fala sobre os perigos para a alma e Nossa Senhora mostra o inferno às crianças; os perigos para o mundo diante os quais pede a Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria; e os perigos para a Igreja, especialmente contida no controverso terceiro segredo. No entanto, ela promete: “No final, o meu Imaculado Coração triunfará, o Santo Padre consagrará a Rússia, que se converterá, e será dado ao mundo um tempo de paz”.

Poderíamos considerar Fátima como a contagem regressiva dos erros espalhados pelas três revoluções que nos lembramos este ano. Ante a Revolução bolchevique, a mensagem de Fátima pede a Consagração da Rússia ao Sagrado Coração. Ante a Revolução Francesa produzida pela ação da Maçonaria, a mensagem nos adverte: “Não façam como o rei da França.” Ante o protestantismo a mensagem nos adverte sobre a desorientação diabólica e apostasia contra a qual promete uma só Igreja.


Fátima e a Revolução Bolchevique: 1917-1917

Nossa Senhora advertiu em Fátima em 1917, poucos meses antes da Revolução Bolchevique, que se a Rússia não se converter e não fosse consagrada pelo Papa ao seu Imaculado Coração, a nação espalharia seus erros pelo mundo:

... a Santíssima Virgem, repetidas vezes, disse, tanto aos meus primos Francisco e Jacinta, como a mim, que, muitas nações da terra desaparecerão em face disso, a Rússia seria o instrumento do castigo do Céu para todo mundo, se antes não alcançarmos a conversão dessa pobre nação”[1].

Efetivamente assim foi e assim segue sendo se considerarmos que a ideologia de gênero é o novo rosto do marxismo.

Em 16 de fevereiro de 2008 o cardeal Carlo Caffara, Arcebispo de Bolonha, em entrevista à Tele Rádio Padre Pio disse:

“... Eu escrevi uma carta à Irmã Lúcia de Fátima através de seu bispo, já que não poderia fazer diretamente. Inexplicavelmente, porém, já que não esperava uma resposta, vendo que só tinha perguntado por suas orações, recebi uma longa carta com sua assinatura - que está agora nos arquivos do Instituto. Nela encontramos escrito:

A batalha final entre o Senhor e o reino Satanás será acerca do matrimônio e da família. Não tenha medo, ele acrescentou, porque qualquer pessoa que atue em nome da santidade do matrimônio e da família será sempre combatido e enfrentado em todas as formas, porque esta é a questão fundamental (...) No entanto, Nossa Senhora já esmagou sua cabeça” [2].

Fátima, a Maçonaria e a Revolução Francesa

Em Rianjo em agosto de 1931, nosso Senhor confiou à Irmã Lúcia:

Tu me dá muito conforto pelo pedido de conversão da Rússia, da Espanha e de Portugal, pediu especificamente também para a minha Santa Mãe (...) Tu também conhece os meus ministros que, tendo escolhido seguir o exemplo do Rei de França na demora da execução do que eu especificamente solicitei, eles também vão seguir em aflição e castigo. Mas será muito tarde para recorrer a Jesus e Maria”.

Nosso Senhor, sucessivamente, com uma mensagem íntima diz:

Como o Rei da França, eles não querem ouvir a minha ordem! Eles vão se arrepender e fazer o que eu pedi, mas, tarde demais: a Rússia já terá espalhado todos os erros promovendo guerras e perseguições contra a Igreja. O Santo Padre terá muito que sofrer.”
A que se refere a frase de Nosso Senhor: Como o Rei da França ...? Bem, isso é o que aconteceu em 1689, 100 anos antes da Revolução Francesa, quando em Paray le Monial, Santa Margarida Maria Alacoque recebe a seguinte mensagem:

Faz saber ao Filho Maior de meu S.C. - Falando do nosso Rei - que como o seu nascimento temporal, foi obtido pela devoção aos méritos da minha Santa Infância, ele também obterá nascimento de graça e glória pela consagração que ele fará de si mesmo ao meu Coração adorável que quer triunfar sobre ele, e por meio dele, dos grandes da terra. Ele quer reinar em seu palácio, ser pintado em seus estandartes e gravado em suas armas, para torná-las vitoriosas sobre todos os seus inimigos, abatendo a seus pés estas cabeças orgulhosas e soberbas para transformá-las (as armas) triunfantes sobre todos os inimigos da Santa Igreja”.

Infelizmente o rei Luís XIV não cumpriu o mandato. Se ele tivesse consagrado o Reino da França ao Sagrado Coração, teria livrado da conspiração maçônica que levou à Revolução de 1789. A cronologia não é casual, mas causal ...

17 de junho de 1689: Pedido de Jesus a Santa Margarida Maria para transmitir ao rei da França.

17 de junho de 1789: início da revolução na França, com a criação da Assembleia Nacional.

Fátima e a confusão protestante: 1917-1517

Quando a Irmã Lúcia perguntou sobre o Terceiro Segredo, ela respondeu simplesmente:
Está no Evangelho e no Apocalipse. Leia-os! (...) É a desorientação diabólica que invade o mundo enganando as almas! ... É que o Demônio tem conseguido infiltrar o mal, com capa de virtude, e anda cegos guiando outros cegos ... E o pior é que tem conseguido burlar e enganar almas que, pelas posições que ocupam, têm uma grande responsabilidade! (...) Eu me ofereço em sacrifício por todos os Sacerdotes e por todas as Almas consagradas, especialmente para aqueles que estão mais desviados e enganados”[3].

Em 13 de abril de 1971, lhe escreve a seu sobrinho, o padre José dos Santos Valinho:
Eu vejo em sua carta que estás preocupado com a desorientação dos nossos tempos. É triste o fato que tantas pessoas se deixem dominar pela onda diabólica que cobre hoje o mundo inteiro, e que cega a ponto que eles são incapazes de ver o erro. A maior culpa está em se afastar de Deus que disse: “Sem mim nada podeis fazer” (...), bem, como em questões religiosas as pessoas são ignorantes e se deixam arrastar por onde as levam. Por esta razão, existe uma grande responsabilidade de quem é responsável por guiar o rebanho”[4].

Lúcia conta que na revelação que teve em Tuy, em 3 de janeiro de 1944, antes de escrever o Terceiro Segredo, que tras a visão de um terrível cataclismo cósmico, sentiu em seu coração uma voz suave dizendo:

Com o tempo, haverá uma só fé, um só batismo, uma só Igreja, Santa, Católica e Apostólica. Na eternidade, o Céu!”[5]

Estas palavras representam a negação radical de qualquer forma de relativismo ou indiferença religiosa, que a voz celestial contrasta com a exaltação da Santa Igreja e da fé católica. A fumaça de Satanás pode se infiltrar na Igreja ao longo da história, mas quem defende a integridade da fé contra as potências do inferno verá, no tempo e na eternidade, o triunfo da Igreja e do Coração Imaculado de Maria , selo definitivo da trágica porém esperançosa mensagem de Fátima.

Os pedidos da Virgem não cumprido e as consequências do não cumprimento deveriam ser mais do que suficiente para levar-nos a meditar, rezar e trabalhar. Se realmente amamos a Nosso Senhor, Sua Mãe e a Igreja, devemos estar prontos para defendê-la. Vai ser a nossa contribuição para acelerar o triunfo do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria.


Andrea Greco Álvarez

[1] Conversação entre a Irmã Lúcia e o Padre Agustín Fuentes, vice-postulador da causa de beatificação de Jacinta e Francisco, em 26 de dezembro de 1957. Publicado com o imprimatur de seu Arcebispo S.E.R. Mons. Sánchez Santa Cruz, México

[2] A entrevista foi reproduzida na revista mensal “Voce di Padre Pio”, Março de 2008.
[3] Carta da irmã Lúcia à Madre Martins, 1970. Martins dos Reis, Uma Vida Ao Serviço de Fátima, Porto, 1972 (Com Imprimatur do Bispo de Leiria, D. Joao Venancio). Capítulo 6, “Um Pequeno Tratado da Vidente sobre a Natureza da Recitação do Terço” contém trechos de cartas da Irmã Lúcia escritas entre 1969 e 1971.

[4] Ibid.


[5] Carmelo de Coimbra, Um Caminho sob o Olhar de Maria, biografia da Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, O. C. D. Marco de Canavezes: Edições Carmelo, 2013, 495.

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