sábado, 26 de agosto de 2017

Capítulo VIII – PADRE NÃO CASA! QUEM DISSE? [O Celibato. A Confissão]


“O celibato é um grande escândalo, porque demonstra que o Senhor e o seu mundo futuro são uma realidade no nosso tempo e isso deveria desaparecer. Esta crítica per­manente contra o celibato pode surpreender, num tempo em que a moda é não se casar. Mas este ‘não se casar’ é totalmente distinto do celibato, porque o ‘não se casar’ baseia-se no querer viver só para si, sem aceitar vínculos definitivos, enquanto o celibato é exatamente o contrário: é um sim definitivo, é um entregar-se nas mãos do Senhor.”

(Bento XVI)

Uma vez apontados os falsos pastores, resta trazer à luz os verdadeiros, pois nestes tempos modernos a noção do que seja um padre se perdeu, mesmo entre os padres.

Comecemos pelo título.

É difícil não encontrar entre os protestantes um que não saia com a (por demais) distraída pergunta: por que padre não casa? Como se isto fosse primei­ramente anormal ou, pior, antibíblico. Primeiramente há que lembrar que Jesus, ao interrogar os doutores da lei se estes haviam lido nas Escrituras sobre a pedra angular – porque a eles era destinada a função de ler, interpretar e ensinar – lança-lhes uma grave sentença justamente por não fazer o que deveriam[1]: inter­pretar e ensinar corretamente ao povo as Sagradas Letras (sobre o que falaremos mais abaixo).

Em relação ao tema presente, a primeira preocupação que os defensores incondicionais do “crescei e multiplicai” deveriam ter é a de saber se “está na Bíblia” algo que respalde o contrário, ou se todos os personagens bíblicos “cresceram e se multiplicaram”. Talvez para escândalo de muitos, eis uma pequena relação de alguns notórios celibatários[2]: Josué, Jeremias, Elias, Eliseu, João (Batista e Evangelista), Marcos, Lucas, Paulo, Estevão, Timóteo e... Nosso Senhor Jesus Cristo (deixemos por hora a Nossa Senhora e São José). Além disso, muitos dos que possuíam família ao conhecer Jesus passam a viver como se não a tivessem a fim de dedicar-se à Igreja, sem que com isso abandonem ou negligenciem os seus: tal é o caso de Pedro, Bartolomeu e tantos outros[3].

Há pouco uma senhora que havia derivado do navio da Igreja para se aven­turar nas canoas furadas do protestantismo nos fez a mesmíssima pergunta: por que padre não casa? Como a pergunta veio com reta intenção, ou seja, a de vencer sua ignorância, respondemos: padres e freiras (que não são suas mulheres, somente seu feminino[4]) não casam porque ao invés de uma, optam por abraçar todas as famílias por amor ao Reino dos céus, como nos explica acima o papa Bento XVI. Eles(as) não casam com uma mulher/homem para casar com Cristo e a Ele servir de forma exclusiva: eis o sublime ideal do celibato. Ocorre que se muitos não o encaram desta forma e não o vivem como deveriam, o problema, como já frisado, não está na condição em si, tampouco no celibato, mas na pessoa que não se colocou à altura de tão nobre e generoso gesto para com Deus e o próximo, o que fez, por exemplo, Judas Iscariotes ao optar por não ser digno da função de apóstolo-bispo que lhe havia conferido Jesus.


Como imaginamos ser ainda possível a esta altura alguém dizer “e onde está na Bíblia?”, daremos as mesmas indicações de leitura dadas a esta senho­ra, que de pronto se deu por satisfeita, pois sua intenção, como dito, era reta[5]. Quem ao lê-las, ainda assim não se der conta de que a virgindade é uma possibilidade para os que servem a Cristo e em certo sentido mais nobre que o matrimônio (pois se renuncia a um bem por amor a outro bem maior), ou possui uma ignorância invencível ou simplesmente não quererá vencer. Esperamos que com as exortações de Nosso Senhor e de São Paulo, que são Palavra de Deus, possamos dirimir de uma vez por todas a questão. Iniciemos, portanto, com o Evangelho de S. Mateus (XIX, 9-12); leram? Muito bem, em seguida passemos a 1 Cor VII, 1-11; para concluir, nova promessa de Cristo, que é fiel às suas promessas: Mt XIX, 25-29. Mais claro impossível.

Em seguida passemos a outro problema criado por Lutero, que o inventou após perder o privilégio que possuía enquanto legítimo pastor de almas. Quando devido a sua excomunhão deixou de ter autoridade para perdoar os pecados e o direito à confissão sacramental, a solução foi negá-los e ensinar assim aos que vieram atrás. E os protestantes hoje o negarão não porque tal autoridade não “está na Bíblia”, mas porque foram adestrados em mais esta heresia. O apelo reiterado ao bom senso, esperamos, trará o resultado que trouxe à senhora acima.

Só Deus pode perdoar, como só Ele pode criar, salvar, libertar, curar e dar a vida. Mas também pode conferir a quem quiser os poderes que quiser, primei­ro porque tudo pode, pois é onipotente, e depois porque quis que os homens, ainda que pecadores – à exceção de Maria Santíssima, como veremos –, fossem instrumentos para que esses poderes (graças) chegassem aos seus semelhantes. Basta lembrar o que fez pelas mãos de homens como Moisés, Elias, Eliseu, Davi, Pedro, Paulo... todos pecadores. Por que então se admirar que um sacerdote, em nome de Deus, perdoe os pecados, se era exatamente isso, guardada as devidas proporções, que faziam os sacerdotes judeus ao apresentar o sacrifício no altar do templo? E aqui não Lutero, mas as próprias Escrituras não nos deixarão mentir:

Deuteronômio XXI, 5: “E, se aproximarão os sacerdotes filhos de Levi, que o Senhor teu Deus tiver escolhido para serem seus ministros, e para abençoarem em seu nome, e por decisão dêles se julgue tôda a causa, e o que é puro ou impuro”.

Levítico I, 4s.9: “E porá a mão sôbre a cabeça da vítima, e ela será aceita, e aproveitará para a sua expiação; e imolará o novilho diante do Senhor, e os sacer­dotes filhos de Arão, oferecerão o seu sangue... e o sacerdote queimará estas coisas sôbre o altar em holocausto e em suave cheiro ao Senhor”.

Levítico XVI, 32: “Ora a expiação (o perdão dos pecados) será feita pelo sacerdote que foi ungido, e cujas mãos foram sagradas para exercer as funções do sacerdócio... e será revestido da túnica de linho e das vestes sagradas, e expiará o santuário e o tabernáculo do testemunho e o altar, e também os sacerdotes e todo o povo. E será para vós (sacerdotes) lei perpétua, o fazer oração uma vez por ano pelos filhos de Israel e por todos os seus pecados. E fêz-se como o Senhor tinha ordenado a Moisés”.

[Encontre-se um pastor que tenha sido legitimamente ungido e suas mãos consagradas para que através delas Deus expie (perdoe) os pecados; que se vista de vestes sagradas... e consigam provar a autenticidade de seu “sacerdócio” pela sucessão apostólica iniciada pelos Doze e continuada sem interrupção nesses dois milênios... e nos tornaremos protestantes]

A desculpa de que “o padre é um homem como nós” não se sustenta, pois todos os outros o foram, e por eles Deus operou (verdadeiros) milagres. A me­lhor justificativa bíblica, além das que acabamos de dar, encontra-se em S. João (XXI, 20-23), que mais explícita não poderia ser. Aqui não adiantará malabaris­mos exegéticos e hermenêuticos, ou ainda retóricos, dos quais muitos são peritos. Devido a Cristo não ter vindo para abolir, mas aperfeiçoar e cumprir a Lei, da mesma forma que fez com o Povo escolhido continuará fazendo através da Igreja, dando aos ho­mens o poder de em Seu nome perdoar pecados. O problema é que tal poder não foi conferido a qualquer homem, por qualquer homem e de qualquer maneira, portanto, a negação destes dons no fundo será um problema causado por dois irmãos gêmeos: o despeito e a inveja, incentivados pela ignorância e a soberba[6]. Nada mais.

Em tempo: 1) a acusação de pedofilia associada ao celibato, além de ser leviana não se comprova na realidade, pois em qualquer pesquisa séria e honesta veremos que a grande maioria dos pedófilos se encontra justamente entres os pais e parentes das criança, ou em pessoas que exercem a sexualidade. E neste rol, muitos pastores, que por seu turno são em grande maioria casados e pais de família. O problema então não estará com o celibato, mas com a pessoa.
2) O sacerdote ao ouvir uma confissão jamais a pode revelar, sob juramento (Câ­non 1388 § 1. do Código de Direito Canônico). É o que conhecemos como “segredo de confissão”. Na história dos mártires ouve quem morresse por se recusar a descumprir o que a Igreja ordena, ou seja, por recusar a revelar os segredos de confessionário. Dois belos exemplos os encontramos nas vidas de S. João Nepomuceno († 1383) e do sacerdote em processo de beatificação Felipe Císcar Puig († 1936).




[1] Cf. Mt XXI, 42s.
[2] De celibato. Opção de se manter em estado de castidade. O celibatário é aquele que não casa nem exerce sua sexualidade, mantendo-se virgem e/ou casto.
[3] Cf. Mt IV, 18-22; At IV, 32-36.
[4] Ver no capítulo anterior: Um último detalhe.
[5] Tivemos a felicidade de saber que, passado um tempo de indagações em busca da verdade, a senhora em questão voltou à Casa Paterna, abandonando de vez o protestantismo por entender a inco­erência de sua doutrina. Esse é um detalhe não menos importante: a quase totalidade das pessoas que abandonam o catolicismo e migram para as seitas, o fazem por questões subjetivas: ou de ignorância (desconhecimento doutrinal), ou de soberba (não querem se submeter às regras e às autoridades), ou de malícia (desejam vantagens e/ou consolos diversos), ou de covardia (se rendem a decepções que encontram no seio da mesma, negam a “cruz de cada dia” para encontrar um lugar onde se “sintam bem”, onde se “pare de sofrer”, o que, convenhamos, é impos­sível). Do lado oposto, quando alguém sai de uma seita para entrar no corpo da Igreja, se tornar católico, via-de-regra o faz por questões objetivas: passam a conhecer de fato a doutrina católica, sua lógica e har­monia, em uma palavra: sua perfeição. As motivações são mui distintas. Como a caridade de muitos já se esfriou (cf. Mt XXIV, 12) e quase já não há mais fé sobre a terra (cf. Lc XVIII, 8), as pessoas buscam na religião apenas uma tábua de salvação, consolo pessoal, bem-estar material ou conforto emocional, o que faz com que se perca completamente o sentido do “quem quiser ser meu discípulo tome a sua cruz e me siga” (Mt XVI, 24). Esquecem-se que “... nem todo o que diz Senhor, Senhor entrará no Reino dos Céus” (Mt VII, 21).
[6] Deixo uma mui esclarecedora indicação de leitura sobre o tema: o artigo “O celibato sacerdotal”, de Gercione Lima, publicado em https://fratresinunum.com/2016/05/20/o-celibato-sacerdotal/ (Acesso em 20/05/2016).

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