“O
celibato é um grande escândalo, porque demonstra que o Senhor e o seu mundo
futuro são uma realidade no nosso tempo e isso deveria desaparecer. Esta
crítica permanente contra o celibato pode surpreender, num tempo em que a moda
é não se casar. Mas este ‘não se casar’ é totalmente distinto do celibato,
porque o ‘não se casar’ baseia-se no querer viver só para si, sem aceitar
vínculos definitivos, enquanto o celibato é exatamente o contrário: é um sim
definitivo, é um entregar-se nas mãos do Senhor.”
(Bento
XVI)
Uma vez apontados os falsos pastores, resta
trazer à luz os verdadeiros, pois nestes tempos modernos a noção do que seja um
padre se perdeu, mesmo entre os padres.
Comecemos
pelo título.
É difícil
não encontrar entre os protestantes um que não saia com a (por demais)
distraída pergunta: por que padre não casa? Como se isto fosse primeiramente
anormal ou, pior, antibíblico. Primeiramente há que lembrar que Jesus, ao
interrogar os doutores da lei se estes haviam lido nas Escrituras sobre a pedra
angular – porque a eles era destinada a função de ler, interpretar e ensinar –
lança-lhes uma grave sentença justamente por não fazer o que deveriam[1]:
interpretar e ensinar corretamente ao povo as Sagradas Letras (sobre o que
falaremos mais abaixo).
Em
relação ao tema presente, a primeira preocupação que os defensores
incondicionais do “crescei e multiplicai” deveriam ter é a de saber se “está na
Bíblia” algo que respalde o contrário, ou se todos os personagens bíblicos
“cresceram e se multiplicaram”. Talvez para escândalo de muitos, eis uma
pequena relação de
alguns notórios celibatários[2]: Josué, Jeremias,
Elias, Eliseu, João (Batista e Evangelista), Marcos, Lucas, Paulo, Estevão,
Timóteo e... Nosso Senhor Jesus Cristo (deixemos por hora a Nossa
Senhora e São José). Além disso, muitos dos que possuíam família ao conhecer
Jesus passam a viver como se não a tivessem a fim de dedicar-se à Igreja, sem
que com isso abandonem ou negligenciem os seus: tal é o caso de Pedro,
Bartolomeu e tantos outros[3].
Há pouco
uma senhora que havia derivado do navio da Igreja para se aventurar nas canoas
furadas do protestantismo nos fez a mesmíssima pergunta: por que padre não
casa? Como a pergunta veio com reta intenção, ou seja, a de vencer sua
ignorância, respondemos: padres e freiras (que não são suas mulheres, somente
seu feminino[4])
não casam porque ao invés de uma, optam por abraçar todas as famílias por amor
ao Reino dos céus, como nos explica acima o papa Bento XVI. Eles(as) não casam
com uma mulher/homem para casar com Cristo e a Ele servir de forma exclusiva:
eis o sublime ideal do celibato. Ocorre que se muitos não o encaram desta forma
e não o vivem como deveriam, o problema, como já frisado, não está na condição
em si, tampouco no celibato, mas na pessoa que não se colocou à altura de tão
nobre e generoso gesto para com Deus e o próximo, o que fez, por exemplo, Judas
Iscariotes ao optar por não ser digno da função de apóstolo-bispo que lhe havia
conferido Jesus.
Como
imaginamos ser ainda possível a esta altura alguém dizer “e onde está na
Bíblia?”, daremos as mesmas indicações de leitura dadas a esta senhora, que de
pronto se deu por satisfeita, pois sua intenção, como dito, era reta[5].
Quem ao lê-las,
ainda assim não se der conta de que a virgindade é uma possibilidade para os
que servem a Cristo e em certo sentido mais nobre que o matrimônio (pois se
renuncia a um bem por amor a outro bem maior), ou possui uma ignorância
invencível ou simplesmente não quererá vencer. Esperamos que com as exortações
de Nosso Senhor e de São Paulo, que são Palavra de Deus, possamos dirimir de
uma vez por todas a questão. Iniciemos, portanto, com o Evangelho de S. Mateus
(XIX, 9-12); leram? Muito bem, em seguida passemos a 1 Cor VII, 1-11; para
concluir, nova promessa de Cristo, que é fiel às suas promessas: Mt XIX, 25-29.
Mais claro impossível.
Em
seguida passemos a outro problema criado por Lutero, que o inventou após perder
o privilégio que possuía enquanto legítimo pastor de almas. Quando devido a sua
excomunhão deixou de ter autoridade para perdoar os pecados e o direito à
confissão sacramental, a solução foi negá-los e ensinar assim aos que vieram
atrás. E os protestantes hoje o negarão não porque tal autoridade não “está na
Bíblia”, mas porque foram adestrados em mais esta heresia. O apelo reiterado ao
bom senso, esperamos, trará o resultado que trouxe à senhora acima.
Só Deus
pode perdoar, como só Ele pode criar, salvar, libertar, curar e dar a vida. Mas
também pode conferir a quem quiser os poderes que quiser, primeiro porque tudo
pode, pois é onipotente, e depois porque quis que os homens, ainda que
pecadores – à exceção de Maria Santíssima, como veremos –, fossem instrumentos
para que esses poderes (graças) chegassem aos seus semelhantes. Basta lembrar o
que fez pelas mãos de homens como Moisés, Elias, Eliseu, Davi, Pedro, Paulo...
todos pecadores. Por que então se admirar que um sacerdote, em nome de Deus,
perdoe os pecados, se era exatamente isso, guardada as devidas proporções, que
faziam os sacerdotes judeus ao apresentar o sacrifício no altar do templo? E
aqui não Lutero, mas as próprias Escrituras não nos deixarão mentir:
Deuteronômio
XXI, 5: “E, se aproximarão os sacerdotes filhos de Levi, que o Senhor
teu Deus tiver escolhido para serem seus ministros, e para abençoarem
em seu nome, e por decisão dêles
se julgue tôda a causa, e o que é puro ou impuro”.
Levítico
I, 4s.9: “E porá a mão sôbre a cabeça da vítima, e ela será aceita, e
aproveitará para a sua expiação; e imolará o novilho diante do
Senhor, e os sacerdotes filhos de Arão, oferecerão o seu sangue... e o
sacerdote queimará estas coisas sôbre o altar em holocausto e em suave
cheiro ao Senhor”.
Levítico
XVI, 32: “Ora a expiação (o perdão dos pecados) será feita pelo
sacerdote que foi ungido, e cujas mãos foram sagradas para exercer as
funções do sacerdócio... e será revestido da túnica de linho e das
vestes sagradas, e expiará o santuário e o tabernáculo do testemunho e o
altar, e também os sacerdotes e todo o povo. E será para vós
(sacerdotes) lei perpétua, o fazer
oração uma vez por ano pelos filhos de Israel e por todos os seus
pecados. E fêz-se como o Senhor tinha ordenado a Moisés”.
[Encontre-se
um pastor que tenha sido legitimamente ungido e suas mãos consagradas
para que através delas Deus expie (perdoe) os pecados; que se vista de vestes
sagradas... e consigam provar a autenticidade de seu “sacerdócio” pela sucessão
apostólica iniciada pelos Doze e continuada sem interrupção nesses dois
milênios... e nos tornaremos protestantes]
A
desculpa de que “o padre é um homem como nós” não se sustenta, pois todos os
outros o foram, e por eles Deus operou (verdadeiros) milagres. A melhor
justificativa bíblica, além das que acabamos de dar, encontra-se em S. João
(XXI, 20-23), que mais explícita não poderia ser. Aqui não adiantará malabarismos
exegéticos e hermenêuticos, ou ainda retóricos, dos quais muitos são peritos.
Devido a Cristo não ter vindo para abolir, mas aperfeiçoar e cumprir a Lei, da
mesma forma que fez com o Povo escolhido continuará fazendo através da Igreja,
dando aos homens o poder de em Seu nome perdoar pecados. O problema é que tal
poder não foi conferido a qualquer homem, por qualquer homem e de qualquer
maneira, portanto, a negação destes dons no fundo será um problema causado por
dois irmãos gêmeos: o despeito e a inveja, incentivados pela ignorância e a
soberba[6].
Nada mais.
Em tempo:
1) a acusação de pedofilia associada ao celibato, além de ser leviana não se
comprova na realidade, pois em qualquer pesquisa séria e honesta veremos que a
grande maioria dos pedófilos se encontra justamente entres os pais e parentes
das criança, ou em pessoas que exercem a sexualidade. E neste rol, muitos pastores,
que por seu turno são em grande maioria casados e pais de família. O problema
então não estará com o celibato, mas com a pessoa.
2) O
sacerdote ao ouvir uma confissão jamais a pode revelar, sob juramento (Cânon 1388
§ 1. do Código de Direito Canônico). É o que conhecemos como “segredo de
confissão”. Na história dos mártires ouve quem morresse por se recusar a
descumprir o que a Igreja ordena, ou seja, por recusar a revelar os segredos de
confessionário. Dois belos exemplos os encontramos nas vidas de S. João
Nepomuceno († 1383) e do sacerdote em processo de beatificação Felipe Císcar
Puig († 1936).
†
[2] De celibato. Opção de se
manter em estado de castidade. O celibatário é aquele que não casa nem exerce
sua sexualidade, mantendo-se virgem e/ou casto.
[5] Tivemos a felicidade de saber
que, passado um tempo de indagações em busca da verdade, a senhora em questão
voltou à Casa Paterna, abandonando de vez o protestantismo por entender a incoerência
de sua doutrina. Esse é um detalhe não menos importante: a quase totalidade das
pessoas que abandonam o catolicismo e migram para as seitas, o fazem por
questões subjetivas: ou de ignorância (desconhecimento doutrinal), ou de
soberba (não querem se submeter às regras e às autoridades), ou de malícia
(desejam vantagens e/ou consolos diversos), ou de covardia (se rendem a
decepções que encontram no seio da mesma, negam a “cruz de cada dia” para
encontrar um lugar onde se “sintam bem”, onde se “pare de sofrer”, o que,
convenhamos, é impossível). Do lado oposto, quando alguém sai de uma seita
para entrar no corpo da Igreja, se tornar católico, via-de-regra o faz por
questões objetivas: passam a conhecer de fato a doutrina católica, sua lógica e
harmonia, em uma palavra: sua perfeição. As motivações são mui distintas. Como
a caridade de muitos já se esfriou (cf. Mt XXIV, 12) e quase já não há mais fé
sobre a terra (cf. Lc XVIII, 8), as pessoas buscam na religião apenas uma tábua
de salvação, consolo pessoal, bem-estar material ou conforto emocional, o que
faz com que se perca completamente o sentido do “quem quiser ser meu discípulo
tome a sua cruz e me siga” (Mt XVI, 24). Esquecem-se que “... nem todo o que
diz Senhor, Senhor entrará no Reino dos Céus” (Mt VII, 21).
[6] Deixo uma mui esclarecedora
indicação de leitura sobre o tema: o artigo “O celibato sacerdotal”, de
Gercione Lima, publicado em https://fratresinunum.com/2016/05/20/o-celibato-sacerdotal/
(Acesso em 20/05/2016).
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