Tratai de compreender, ó
gente estulta. Insensatos, quando cobrareis juízo? (Salmos 93:8)
Vir uma alma
a tomar um corpo – é encarnar, diz Kardec, examinemos à luz da razão e do bom
senso esta falsa afirmação.
O espaço é
povoado de almas ou espíritos, e estes, conservam a sua personalidade distinta do corpo, que é apenas um invólucro
material, transitório, que os envolve. Esta união opera pelo períspirito, substância semimaterial, em virtude de ter que se
reunir a alma espiritual a um corpo material.
E para isso o
“genial” Kardec inventou a sua célebre cola semimaterial
. Notemos, de passagem, a cretinice da invenção. Só existem duas ordens de
estados verdadeiros: o estado espiritual e o estado material. Kardec. Porém,
entende de obter um invólucro, ou períspirito,
que constitui um terceiro estado e toda a base da “ciência” espírita.
Agora vem a
encarnação... Tais espíritos devem encarnar-se, isto é, “meter-se em carne”.
Mas, notemos
bem, que tal encarnação se pode fazer (é Kardec quem o diz) nos três reinos da
natureza, mineral, vegetal, animal; em outros termos, o espírito pode
encarnar-se nas pedras, nas plantas, nos animais...
A “ciência” espírita
Chega a hora
de encarnação. – Notem o absurdo: encarnar-se,
meter-se na carne de uma pedra, ou
de um pau, na carne de uma formiga, barata ou peixe.
O velho frade
vem trazer a sua pedrinha para o monumento
espírita, a proclamada ciência da loucura. Por ora fique o termo
encarnar-se na pedra, no pau ou no asno!
Eis, pois, um
espírito bruto que só merece pedra... pois, boa pedra não falta, e eis que o
maroto do espírito procura uma pedra para meter-se nela...
Aí está.
Batida pelas ondas, levadas pelos mares, insensível, fria, inerte, mas, num
momento dado, o espírito desce, penetra na pedra, fixa-se nela por meio de seu perispírito, e eis a pedra, inerte e
bruta, feita um ser vivo, inteligente, pois todo espírito é inteligente.
A pedra aí
fica, mas vê, ouve, sente, cresce e se desenvolve, pois o fim da encarnação é o
desenvolvimento, o aperfeiçoamento do espírito.
Não objetem
nada! Isto é científico na “sabedoria” espírita, onde agente deve crer tudo e
nada examinar – não objetem nada, pois que uma pedra não tem olhos para ver,
ouvidos para ouvir, nem órgãos para crescer.
Cala a boca,
homem, tu não entende de espiritismo...
Tens olhos para ver e ouvidos para
ouvir. Isto é cretinice do católico romano, que ainda acredita em Deus; os
espíritos emancipados, libertados do julgo de Deus, de Cristo, do Papa, dos
bispos, da “sombra da batinas” dos
sacerdotes, tais espíritos estão muito acima de tamanha ignorância.
O espírito,
qualquer deles, tem a sua personalidade perfeita, fora e dentro da matéria.
Logo, o espírito vê, ouve e cresce na pedra.
Aliás, tudo
que vive deve se alimentar e crescer. A pedra vive pela encarnação do espírito,
logo, deve alimentar-se e crescer.
De que se
alimenta? Como cresce uma pedra? Até hoje julguei, porque assim me ensinaram em
química, que uma pedra aumentava por adição, de fora para dentro. Mas isto é
católico. Kardec faz crescer a pedra de dentro para fora...
Francamente,
eu fico com medo das pedras. Até ontem o homem supunha ser o rei da criação, em
paz e harmonia com todos, julgando-se seguro de sua alçada e poder, e eis que,
de repente, à luz da lâmpada espírita, tudo mudou, cobrindo-se a pedra de olhos
e ouvidos, de boca e dentes para destruir o reinado.
Só agora
começo a compreender as vantagens do espiritismo. Eu estou vendo como a
“ciência” espírita é uma grande coisa, sublime, luminosa! E até ontem eu nada
havia entendido disso. Foi preciso que a lamparina espírita dissipasse as
sombras da minha inteligência de frade. Só tenho que agradecer...
A reencarnação espírita
Continuemos
as nossas pesquisas científicas, no campo espírita. Após a encarnação dos
espíritos, conforme os maravilhosos ensinamentos Kardecistas, nas pedras do
mar, da estrada, das rochas e das habitações, há a encarnação nos vegetais.
- Mas como
isso se operará? Manuseei os comentadores da tal doutrina, sobre o caso,
e concluí que estavam os mesmos inclinados à hipótese de não prevalecer a dos
outros reinos sobre o vegetal.
Da semente
cresce a árvore e quando de certo tamanho, eis que alguns espíritos delas se
enamoram. Se estiver o espírito em progresso, isto é, após haver completado a
sua primeira existência, num mineral qualquer, depois de desencarnar-se na
pedra, certo, meter-se-á no cerne da árvore.
Ó doce
colóquio! Um espírita nunca deveria passar indiferente diante de um vegetal.
Com um suave sorriso aos lábios, deveria abraça-los, corpo material de um
espírito imaterial, osculá-lo afetuosamente, e murmurar-lhe uma palavra de
consolação.
Nós
católicos, cumprimentamos os nossos amigos e conhecidos, quando com eles nos
encontramos. Oferecemos-lhes união, sempre um aperto de mão, pelo menos um
olhar de bondade, um sinal de afeição. E os espíritas, tão superiores, tão
afeiçoados, quedam-se indiferentes diante dos amiguinhos da estrada, do mato e
dos quintais! Que ingratidão.
Mas, há pior
que isso. Espíritos que decepam o próprio vegetal, que lhe cortam a madeira,
que lhe queimam a lenha... Tudo são uns
tantos corpos de espíritos!
E ao contato
com o machado que o destrói, o espírito sacode as asas, e quase paralisado pela
cola semimaterial do períspirito, levanta voo pelos espaços
azuis do firmamento, esperando que possa voltar, um dia, para encarnar-se
novamente, em qualquer árvore aperfeiçoada... frutífera, talvez, para depois de haver produzido pelo seu sopro
e pelo fluído das suas entranhas saborosos produtos vegetais, poder de novo
deixar o cárcere verde e tornar-se a encarnar-se em qualquer corpo animal.
Mas nada se
faz por saltos na natureza, diz a filosofia. Não pode ser de repente que o
espírito, após a sua estada nas árvores, possa tomar posse do corpo de um
animal superior.
Há de passar,
antes, pelo reino animal inferior, pela história natural chamado dos zoófitos.
E a transição
é um progresso, pois na casca da madeira o pobre espírito nem nem se mover
poderia; nem daria um abraço no espírito vizinho, nem puniria o garoto que lhe
roubara os frutos.
Exércitos de reencarnados
Sempre
avante, sempre em progresso! Tal é a divisa da ciência. O espiritismo, também,
para poder progredir, meteu-se até no fundo do mar, e, após lutas imensas,
chegou aonde nós estamos, nós, os homens da terra. Lembrem-se porém, que os
espíritos não são da terra, vêm da lua, do espaço, lá das altas regiões onde só
penetra a visão telescópica do astrônomo ou o olhar perscrutador de certos
improvisados “cientistas”.
Pra ficarmos
sempre imparciais na exposição das teorias espíritas, é preciso, vez por outra,
lembrar as palavras de Kardec, que formam a base da reencarnação: “ O homem,
diz ele, é formado de três partes essenciais: o corpo material e sensível,
análogo ao dos animais e animado pelo mesmo espírito vital; a alma, espírito
encarnado cuja habitação é o corpo, e o períspirito, substância semimaterial, que serve de envoltura ao
corpo” (Livro dos Espíritos Cap 2).
Eis o que
convém rememorar, para conceber o plano espírita na mais absurda das suas
invencionices que é a reencarnação.
“O espírito é
eterno, mas imperfeito, e apto para atingir a perfeição”. Isto é ainda de Alan.
Até aqui,
temos seguido o aperfeiçoamento progressivo de um espírito inferior,
imperfeito, através da vicissitude da metempsicose,
ou transmigração da alma de um corpo para o outro. Continuemos esse curioso
estudo, até chegarmos ao homem perfeito.
Sucessivamente, o tal espírito foi se
aperfeiçoando, passando de pedra a árvore, e de árvore a polipeiro... Saímos do
reino mineral e vegetal e penetramos, enfim, entre os animais inferiores da
terra, do mar ou do firmamento.
Eis pois o
espírito que alcançou o grau do reino animal; eis o espírito feito bicho. Mas,
para evitar os saltos, deve ele passar uns anos na pele dos animais inferiores:
formigas, saúvas, enfim, moscas, baratas, besouros, etc.
Não se
espantem! Isso é “ciência espírita”, e no espiritismo, quanto mais uma asneira
é crassa e bisonha, mais deve ser aceita cegamente.
Eis, pois, o
incalculável exército subterrâneo de formigas e saúvas, o exército aéreo de
moscas e besouros e o exército caseiro de cupim e das baratas, todos animais de
espíritos reencarnados.
Há espíritos
de todos os lados; entre eles há espíritos bons e maus, destruidores,
zombeteiros e impuros.
Grande Deus,
que vida... só espíritos! Espíritos em toda parte: espírito na terra...
espíritos no ar, espíritos em casa e no sítio, espíritos até na roupa e na pele
da gente, pois aí penetram
certos parasitas, mais atrevidos que o pulex
penetrans e mais ferozes que maribondos.
No sítio
estamos cercados de perigos. Qualquer espírito zombeteiro e carrasco, encarnado
num coqueiro, é capaz de lançar-nos no abdômen um côco fenomenal, enquanto um cajueiro
nos esmaga o nariz com seu fruto, ou uma mangueira nos quebra o mioleiro com
uma manga.
Corre, homem,
corre! Mas, eis que na fuga as pedras se animam, e outro espírito zombeteiro e
bruto assenta-lhes nas costas um rochedo, enquanto outro espírito ferino,
escondido no ferrão de um moribundo, penetra-lhe na testa o seu dardo envenenado...
Corre, homem,
salva tua vida! Ei-lo aqui, na areia branca da praia! Aí, pelo menos,
encontrará a paz. Do interior das areias surge, porém, de mansinho, o espírito pulex penetrans, o bicho do pé, que, sem
preâmbulos, mete-lhe um exército de outros animáculos sob as unhas, enquanto
moscas, besouros, mosquitos e gafanhotos, todos animados por espíritos ferinos
e algozes, invadem-lhes o rosto e as mãos.
Corre, amigo,
talvez encontre nas margens dos lagos algum alívio. Qual nada! Apenas chegado,
o homem lança-se na água, para refrescar a fronte queimada e o coração
ofegante. Mas, que horror! A água não é senão uma aglomeração de espíritos
horríveis, encarnados nos milhões de insetos, vermes, de peixinhos, de rãs, de
sapos que aí se banham e fixam morada. Desta vez o homem caiu mesmo nos braços
espíritas de um exército armado...
Eis a “ciência
espírita”... Digam-me amigos leitores, não é esplêndida uma tal invenção, e não
merecem os inventores uma entrada gratuita nos asilos de alienados?
É o que
podemos concluir dos rigorosos princípios enunciados pelo fundador da seita e
que mui de indústria se encobre sob o pseudônimo de Alan Kardec.
O Anjo das
Trevas - lampejos de doutrina, de ciência e de bom senso – Padre Júlio Maria
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