Por Airton Vieira*
Com o horário de verão e o clima,
literalmente, esquentando, minha pressão que já não é das mais robustas, nestes
tempos se vê ainda mais em baixa. Daí
que sempre acabo, em minhas andanças, buscando instintivamente um lugar mais ameno
para viver, para ter mais anima. Mas
quando o lugar não é monoclimático, como atualmente é o caso, ao entrarmos nos
períodos mais quentes o corpo já dá sinais de arrego.
Toda essa prolixidade para dizer em que
estado amanheci nesta quente manhã de outubro para a Missa das 6:00 (com cara
de 5:00). Mas não só. Há ainda um outro motivo, menos supérfluo, mais sublime,
porque, claro, não dependerá de mim ou de minha (im)pressão.
Ao retornar do Santo Sacrifício, o qual
iniciou com o Sacerdote anunciando a comemoração de Santa Margarida Maria de
Alacoque, me fui a casa para o café. A senhora, que duas vezes na semana me
auxilia com as tarefas domésticas, pergunta se gostaria de bolinhos para o
desjejum. É que estávamos em três e, salvo algum milagre semelhante ao do
Evangelho – guardadas as devidas proporções –, os pães que restavam não dariam sequer
para acompanhar um segundo gole do recém feito café matinal. Assenti. E enquanto
aguardávamos os bolinhos terminávamos com as sobras de pão que havia. Quando enfim
chegaram, foram sendo da mesma forma gratamente digeridos.
Até que...
Ao levar o último à boca, percebo uma forma, a que associo à uma imagem já
registrada no hipotálamo. Em milésimos de segundos as sinapses fizeram sua veloz
turnê cerebral e de pronto aparece o doce rosto de meu Jesus com uma sua mão
apontando ao seu doce Sagrado Coração. Entre este instante e o instante da
viagem do quitute à boca não sobrou nada, e ao tempo em que o Sagrado Coração
já habitava o pensamento, o bolinho já ia entre os dentes. Mas então vem o insight, e ponho-o de volta ao prato,
obviamente não ao modo dos ruminantes (ainda não havia dado a primeira dentada
ou estava apenas a caminho, ou algo assim). “Isto merece ser fotografado”,
penso, e digo. Os presentes sorriem. Assim o faço. E torno a pensar, e dizer:
“Interessante... um bolinho no formato do Sagrado Coração em dia de Santa
Margarida Maria de Alacoque... (sei que nem todos os leitores teriam a
obrigação de decifrar o enigma, por isso será de bom tom e caridade informar
que a santa francesa em questão é a que está intimamente ligada à devoção do Sagrado Coração de Jesus. Creio que isto
já sirva)! E então, com pensamento exposto e registro fotográfico feito, já
posso terminar o que começara, reenviando o último e mais singular dos bolinhos
à boca e dela ao estômago, que não por acaso mora nas cercanias do coração, mas
– propositalmente – abaixo deste.
As sutilezas de Deus, tanto mais sutis,
quanto mais ricas e profundas. E como tudo o que é profundo não nos deixa quietos
na superfície, me vi impelido a tirar do baú, ainda que não fosse um dedicado
pai de família, “coisas novas e velhas”[1].
Assim que ao decorrer do dia foram aparecendo as “coisas novas e velhas”, ao
ponto de forçosamente ter de pô-las no papel
para então dividi-las com os leitores. Se não for incômodo, queiram me
acompanhar.
†
Ainda ontem chegou-me uma notícia, que traduzi
a este blog amigo[2]. Falava de uma nova
“missa”. Uma que unia católicos e protestantes (e quem sabe quantos mais...). Que
já ia ad experimentum em algumas
partes do orbe. Em síntese, tal
“missa”, óbvio dos óbvios!, para que seja fato tem de necessariamente não considerar
mais a Eucaristia como Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo, mas
unicamente sua representação[3].
Um símbolo, uma figura, uma lembrança. Conclusão: uma “missa” que já não é
Missa, só parece. Coisa velha essa novidade, pensada pelo pai do Protestantismo
há uns 500 anos...
Segui tirando as coisas do baú à medida em que se me iam aparecendo.
Quando surgiu Daniel, o profeta[4],
retomado em Mateus, o apóstolo[5].
Suas profecias acerca do Sacrifício Perpétuo, que (oficialmente) será suprimido,
como o pão desta manhã, que naquele momento restavam poucos e que logo já não
havia. Surgiu em seguida a santa francesa a pouco comemorada – que tive a graça
de visitar seu túmulo em Paray Le Monial e saber que seu coração ainda se
conserva, ela que pertenceu ao século XVII e tanto amou ao Sagrado Coração –, que foi incumbida por Cristo Rei de avisar ao
rei da França que consagrasse sua nação ao seu Coração sagrado para se livrar
de determinadas consequências. Isso foi em 1689. O rei não a consagrou, e consequentemente
exatos 100 anos depois teve seu descendente decapitado e sua nação envolta
na que foi sua maior perseguição religiosa, a maçônica revolução francesa,
marcando o declínio definitivo da monarquia e de todo o Ocidente, em que pese as
luzes iluministas alumiarem o
horizonte. Em que pese ainda a libertè,
egalitè e fraternitè dizimando igualitariamente
milhares de irmãos cujo único crime foi o de querer liberdade para viver e
propagar a Verdade.
Ato contínuo, surge uma nova/velha “coisa”,
a lembrança de que em 1931 o mesmo Cristo Rei aparece à Ir. Lúcia de Jesus e do
Coração Imaculado, uma das “pastorinhas de Fátima”, em Rianjo (Es), alertando:
“faz saber aos meus ministros que, dado que seguem o exemplo
do Rei da França em adiar o meu mandato, o seguirão também na aflição.” Que
“mandato”? O de consagrar, agora, a Rússia, e ao Imaculado Coração de sua Mãe, sob
pena de consequências; pedido este feito em 1929, há exatos 240 anos do pedido
de Santa Margarida, da França. E lembrei-me de estarmos em 2017, há exatos 12
anos deste novo centenário; que por seu turno faz lembrar novas(velhas) coisas
como as 12 estrelas de uma determinada Mulher[6],
as 12 Tribos de um determinado povo, os 12 Apóstolos de um determinado Messias,
que por seu turno, somados os últimos fazem ainda lembrar uns 24 anciãos
sentados em tronos, faiscando de indignação porque nada contentes com o
desenrolar das coisas e certas desobediências[7]...
e torno a lembrar – essas lembranças que não me deixam! – de uma resposta do
então Cardeal Ratzinger/Papa Bento XVI sobre a pergunta de o que conteria a
terceira parte do “segredo de Fátima”: que não responderia; mas que tinha a ver
com o capítulo 24 de Isaías, ah, isso tinha!
E ainda uma vez mais lembrei – desculpem, não
haveria como não fazê-lo! – de que é o “Pão vivo descido dos céus” o que
alimenta e sustenta o mundo, preparado
e distribuído por mãos adestradas a tal ofício, esses panificadores divinos. E
que por isso o mundo ainda não sucumbiu de inanição, pois que ainda há Missas. E
neste instante a memória insistiu em lembrar-me novamente do artigo acima que
traduzi, acompanhado agora de uma nem tão velha notícia vinda da Venezuela, a
de que em determinadas partes do país as pessoas já não comungavam com
frequência, por falta não de vontade, mas de Jesus Cristo. É que faltavam
hóstias, porque faltava trigo. Pensei na “missa” ecumênica, com muito trigo,
mas sem Panis angelicum...
Até que de lembrança em lembrança acabei
por lembrar de algo que lera em algum lugar frio por onde passei: que nos
tempos da “grande apostasia”[8],
quando novamente teremos de tornar às catacumbas e fugir às montanhas, ali se dizia
que o novo Maná[9] o seria distribuído em
grande parte pela Mulher-Mãe. Que novamente seria Ela a dar(distribuir) seu
Filho, agora Eucarístico, aos que já não poderiam mais contar ordinariamente
com o Pão dos Anjos, porque abolido o Sacrifício Perpétuo e mortos,
encarcerados ou apostatados os padeiros-sacerdotes.
Desfizeram-se então os devaneios e tornei
ao bolinho em forma de Sagrado Coração, feito do mesmo trigo-matriz do pão, do
mesmo trigo-matriz da hóstia, a mim entregues esta manhã por mãos de mulher,
que por acaso é também uma mãe de filhos.
O Evangelho de hoje nos mostra um sagrado
Coração exultante de alegria por ter Deus revelado coisas grandes aos pequenos.
Não digo que o que aqui foi escrito seja grande, porque não tenho a presunção
de que seja revelação divina; mas digo que quem o escreveu é pequeno, e com
isto me alegro. Mais. Por saber – e estar certo de não estar errado – de que
nos momentos piores que nos espreitam, mesmo que falte o Pão haverá uma Mãe a
nos perguntar: quer bolinho?
Santa Margarida Maria de Alacoque: rogai
por nós!
Mater Dei et Mater nostra: ora pro nobis!
Em 17 de outubro do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo
de 2017.
Em tempo: após a conclusão deste
artigo chegou-me a notícia (aqui: https://fratresinunum.com/2017/10/22/foto-da-semana-348/)
de um gigantesco incêndio ocorrido em Portugal e algumas partes da Espanha
justo na semana do centenário da última aparição em Fátima. A espantosa foto em
questão nos permite uma nova elucubração que vem ao encontro destas linhas. A
de que o incêndio, assim o indica a informação prestada, distava “cerca de 60 km de Fátima”, o que nos traz do
fundo de nosso baú a lembrança de um significativo ano de 1960...
_________________
* Filho
de Deus e da Virgem. E isso basta.
[1] Cf. Mt XIII,
52. As leituras aqui constantes não são pura ilustração. Caso o leitor não as
saiba de cor haverá de recorrer a elas para se sair da superfície e também
conseguir tirar suas “coisas”.
[2] http://romadesempre.blogspot.com.br/2017/10/rumo-um-nivissimo-ordo-missae.html
[3] Sobre o que falarei em breve neste blog, no penúltimo capítulo
das postagens de “500 anos de Reforma: um brinde!(?)”: VERBO
REPRESENTAR x VERBO SER [A “dura” doutrina da Eucaristia].
[4] Cf. Dn IX, 27;
XI, 31; XII, 1.11.
[5] Cf. Mt XXIV,
15.
[6] Cf. Ap. XII, 1.
[7] Cf. Ap. IV,4s.
[8] Cf. I Tes II.
[9] Indico, com
grande desejo de que os que me leem, vejam: “Jesus e as raízes judaicas da
Eucaristia” (https://www.youtube.com/watch?v=dmPMljKAoig&t=1s). Acesso em
15.10.2017.
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