Por Airton Vieira*
O problema com este
texto serão os superlativos. Seria imensamente difícil simplificá-los para
traduzir o que aqui vai dito, e que não merece pouca atenção.
Pensando bem, é assombrosamente
mais difícil apequenar o imenso que agigantar o pequeno, o que é lei natural nas
coisas. Todos sabemos que a Sequoia-gigante foi um dia semente anã, mas jamais
se teve notícia do contrário; ao menos nos últimos 4.700 anos, que é, ao que consta,
a idade da mais anciã.
†
Hoje é Quinta-feira
Santa. Esta Quinta, diferente de todas as outras quintas do ano, agrandou-se
pela lembrança do fenômeno de maior magnitude que se tenha conhecimento no
universo: a “particularidade de um Deus”!
Para ficar em dois
exemplos.
Houve um pequeno (de
simples que era) santo francês por nome João Maria Batista Vianney. O
alcunharam O Cura (Pároco) de Ars, apostrofado Cura d’Ars. Este sacerdote um
dia disse que se o sacerdote soubesse o que era o sacerdócio morreria de
felicidade; o que não ocorreu (morrer de felicidade quando soube o que era o
sacerdócio) devido a uma graça especial, assim como aquela de Moisés, que viu a
glória de Deus e não morreu de contente.
Pouco mais de cem anos,
houve um outro sacerdote, Luís Maria Andreu, que se meteu um dia numa pequenina
aldeia ao norte da Espanha, para ver se era certo isso de umas quatro
pequeninas estarem vendo o grande São Miguel e a maior ainda Nossa Senhora. Ali
se anunciava, dentre outras coisas, um “Grande Milagre” para o mundo. E ele
viu. O “Milagre”. Horas depois estava morto, bem morto. Esse sim morrera de
felicidade. O disse a própria Mãe de Deus às 4 mancebas. E não é coisa de
duvidar.
Mas o que isso tem a
ver? É que o Grande Milagre anunciado na pequena aldeia tem a ver com o
sacerdócio, porque tem a ver com a Eucaristia.
Assim que vamos
entendendo as pequenas coisas para não permanecermos grandes ignorantes.
†
Com os sinais dos
tempos batendo às portas, começa-se a se pensar um pouco melhor nos Novíssimi, as “últimas coisas”; ao menos
os que com os olhos que lhes foram dados desejam ver, e com os ouvidos, ouvir. Dos
tantos temas da trama apocalíptica que vêm se desvelando, a coisa vem criando volume.
Então, as gentes passam a se atentar aos grandes eventos, às catástrofes, ao
caos de magnitudes para lá das sequoias e tal... E nisso tornam-se como o leão,
que não tem olhos às coisas pequenas. Guardadas as devidas grandezas deste
símbolo, do leão que não vê o pequeno sinônimo do mesquinho, insignificante etc,
aqui o tomo em sentido oposto, que também cabe.
Como é necessário se fazer
nestes tempos confusos, explico-me.
Um dia, disse Cristo:
“aquele que é fiel no pouco o será também no muito...” (Lc XVI, 10). E isso que
parece, apesar de óbvio, tão pequeno, como tudo o que é pequeno passa
despercebido aos que só têm olhos às coisas grandes. Volumetricamente falando. Os
que sofrem da tal mania de grandeza. A grande maioria de nós, portanto. E é aí
que nos perdemos, e perderemos na hora de escolher entre os dois caminhos, ou
das duas portas, o que dá no mesmo (cf. Mt VII, 13s).
Mas quero aproveitar o
dia, esse em que comemoramos o que pode ser considerado o “Grande Milagre” por
excelência, para tratar de um detalhe... que em boca de Jesus Cristo nunca é coisa de somenos importância.
Começo lembrando que ao
falar nos tempos finais – que pelos sinais dos tempos e segundo o parecer de
gente mais competente, são exatamente os que vivemos – Cristo aconselhou-nos a atentar
às coisas aparentemente pequenas como rezar para que uma determinada fuga não
ocorresse em dia de sábado ou no inverno (cf. Mt XXIV, 20), e o
lamento com relação às mulheres que estiverem
grávidas ou amamentando (cf. XXIV, 19). Como ainda disse para que em determinado
momento nos refugiássemos nas montanhas (cf. XXIV, 15), isto é, saíssemos das
cidades, especialmente as maiores.
Ocorre que devido a uma
piedosa, mas nada racional exegese, foi-se
resolvendo temas espinhosos como estes com interpretação espiritual, dando-lhe mesmo
a primazia. Aquilo que aos nossos olhos de leão parecem coisinhas miúdas ou
estranhas de serem interpretadas “ao pé da letra como fazem os protestantes”,
as resolvemos com simbolismos, analogias, metáforas e alegorias. Assim ficamos
muito bem obrigado, tranquilos em nossas consciências católicas. É que também
fazemos, ainda que com a maior das boas intenções, nossas interpretações ao
modo de um self-service,
utilizando-nos da Tradição e o Magistério ao gosto pessoal, disfarçando nossa
pouca sutileza aos detalhes divinos, ou nossa ignorância à boa exegese e
hermenêutica. Desta forma olvidamos o de Santo Agostinho: que na interpretação das
Escrituras o primeiro sentido é o literal; quando não destoe, lógico, do
sentido comum, ou seja sinônimo de contrassenso.
Mas, há mais...
Ainda ontem um
sacerdote amigo mostrava-me, com pesar, uma nova aberração sacrílega [me
valendo dos superlativos, que aqui é o caso] em sua paróquia de origem, na
cidade de Uberlândia-MG. Ali, esta semana,
um jantar foi oferecido pelo pároco em comemoração não ao Cordeiro Imolado, mas
a quem O imolou. Uma comemoração, portanto, judaica. Como não fosse pouco, realizada
não no salão paroquial, mas no templo, lugar do Sacrifício. Tempos macabeicos...
Isso o que demonstra? Que
já quase não há olhos de águia entre católicos, a começar pelo clero, que é por
onde tudo começa, de bom e de ruim. O que quero dizer é que já não vemos mais o
milagre, ainda que seja o maior do universo. Já não cremos que a Eucaristia É o Corpo, o Sangue, a Alma e da
Divindade de Jesus Cristo: Deus que se fez Miséria, e Miséria que
se fez Quase nada. Sequoia-gigante tornada Semente unicelular... De fato “não
dá pra entender”. Pior, “não dá pra acreditar!”, tal como a maioria dos discípulos
que o abandonaram ao descobrir que de animal racional que quis se tornar, agora
se reduziria à coisa, e coisa para ser comida. É mesmo coisa demais para nossos
grandiosos olhos de leão, mas cabeças de minhoca.
Daí o lugar do sacrifício se
tornar o da ceia. Naturalmente acabaria servindo a qualquer ceia... mesmo a judaica, ou para os
judeus, os que preferiram o cordeiro ao Cordeiro.
Mas Cristo disse que o
fiel no pouco é o que seria no muito. E isso nos diz que somente os que optam
de livre e espontânea vontade às coisas pequenas podem ser fiáveis para as
grandes. Daí que quase já não se apercebe de que do pequeno também surgem grandes
ruínas, grandes perdas: pequenos pensamentos, pequenas palavras, pequenos gestos,
pequenas omissões... e perde-se, de amizades à negócios, de obras de
misericórdia a pátrias e nações, de famílias inteiras a vida eterna.
Os demônios, como anjos
que são, são seres que trabalham não somente nas sombras, mas nos detalhes. Para
eles, estar à espreita, “como o leão buscando a quem devorar” (1 Pe V, 8), é o
mesmo que nos deixar “até outra ocasião” (Lc IV, 13 – a propósito, as citações
não estão de enfeite. Estão para serem consultadas a fim de se entender, quem
não as sabe de cor como os protestantes, o sentido do todo). Enquanto isso vão
estudando o inimigo, que somos nós, observando-nos os pontos fracos, cotejando
sua água mole – e suja – na dura pedra de nossa fé, esperança e caridade, para
ver se a furam o máximo possível.
Daí que isso de ser
fiel no pouco seja para poucos, como já nos disse a Verdade. E sendo Ela quem o
diga, penso que seja sensato dar crédito, fazendo o possível para estarmos neste
pequeno número. Porque isso não é de pouca monta.
Esse é o real motivo
pelo qual a maioria se deixará levar pela dupla bestialidade das Feras da Terra
e do Mar (cf. Apo XIII). Porque serão levados pela grandiosidade dos “milagres
e portentos” demoníacos (2 Tess II, 9), operados pelas mãos de um Falso Profeta
e um Anticristo. Deste modo é que consentirão nas tentações do deserto, as
mesmas que Cristo rejeitou por saber aonde iam dar (cf. Mt IV).
Não
por acaso o discurso escatológico de Lucas XXI se inicia com a narrativa da
viúva pobre (1-4), alertando-nos Jesus
à grandiosidade das pequenas coisas, quando feitas com a reta intenção dos que
buscam não altivezes, mas o Alto. Ao elevar a pobre e humilde viúva, nos dizia “cuidado
com o grandioso, o volumoso, o ovacionado, o poderoso. Com os primeiros
lugares, os reconhecimentos e honras, as multidões e as simpatias fáceis, e o
dinheiro a todo custo, pois o sim ao mundo é o não a Deus”.
Por
isso, ao se insistir em olhar para a Eucaristia com os olhos do corpo, se perde
o sentido da vida, o morrer de felicidade, o milagre supremo. A Escritura diz que
para o triunfo do Anticristo primeiro deverá ser abolido o “Sacrifício
Perpétuo”, trocando-se o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo pela besta irracional que segue comendo capim até à
hora da morte. Um rebaixamento, portanto, satânico.
O
Sacerdócio vive especialmente para a Missa, e esta existe exclusivamente para a
Eucaristia. Assim é que todos somos de Cristo, para sermos, como Ele, de Deus (cf. 1 Cor III, 22).
Se há, nestes tempos
uma oração a ser feita, penso que deva ser esta: “Que tenhamos, Senhor, olhos para ver o invisível, ouvidos
para ouvir o silencioso, e disposição para o diminuto; pois é necessário que
diminuamos, para que cresças”.
Na
Quinta-feira da Paixão de N.S.J.C, do ano da Graça de 2019.
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* É autor e tradutor de textos publicados pela
internet, bem como tradutor dos livros Os
Sermões de São Vicente Ferrer sobre o Anticristo e o Juízo Final e A época presente considerada como provavelmente
a última do mundo, ambos pela Ed. Martyria (2018).
Ave MARIA,
ResponderExcluirParabens Airton pelo pensamento/meditacao qué nos levam a uma nostalgia de centurias dos varoes e damas de FE E VIRTUDES exemplares -que chamamos com justeza SANTOS/AS.
Sim, estes tinham pequeos olhos diante do mundo(exatamente para nao verem as grandezas enganadoras deste mundo)mas qué viam com nitidez da Fe cega as grandezas escondias aos olhos dos grandes e reveladas aos pequeninos.
Oxala, se encontre almas simples qué tenham olhos para entenderem e enxergarem no MISTERIO palpavel nos altares.... Morreriam de alegria ao discobrirem qué O EMANNUEL nao desceu somente Uma vez ha' 2000 Anos atras numa gruta em Belem...mas E'o mesmo qué desce cada dia na "gruta"das maos do Sacerdote no altar,e "enfaixado" pelos panos do corporale deitado na manjedoura dos nossos coracoes.
"O EMANNUEL nao desceu somente Uma vez ha' 2000 Anos atras numa gruta em Belem...mas E'o mesmo qué desce cada dia na "gruta"das maos do Sacerdote no altar,e "enfaixado" pelos panos do corporale deitado na manjedoura dos nossos coracoes."
ExcluirReverendo Padre Antonius,
Nestas "pequenas" linhas resumiu o senhor o fato meis importante desde há 2000 anos na história da humanidade. Oxalá tenhamos estes "olhos de águia", como os do "discípulo amado", para sobretudo amar ao Amor.
Deus o abençoe em seu ministério, pois ai do mundo se não fossem os sacerdotes!
Feliz Ressurreição do Senhor. Que viva Cristo Rei e Nossa Mãe Maria Santíssima!