sexta-feira, 19 de abril de 2019

SOBRE A IMENSIDÃO DO PEQUENO!


Por Airton Vieira*

O problema com este texto serão os superlativos. Seria imensamente difícil simplificá-los para traduzir o que aqui vai dito, e que não merece pouca atenção.

Pensando bem, é assombrosamente mais difícil apequenar o imenso que agigantar o pequeno, o que é lei natural nas coisas. Todos sabemos que a Sequoia-gigante foi um dia semente anã, mas jamais se teve notícia do contrário; ao menos nos últimos 4.700 anos, que é, ao que consta, a idade da mais anciã.
Hoje é Quinta-feira Santa. Esta Quinta, diferente de todas as outras quintas do ano, agrandou-se pela lembrança do fenômeno de maior magnitude que se tenha conhecimento no universo: a “particularidade de um Deus”!

Para ficar em dois exemplos.

Houve um pequeno (de simples que era) santo francês por nome João Maria Batista Vianney. O alcunharam O Cura (Pároco) de Ars, apostrofado Cura d’Ars. Este sacerdote um dia disse que se o sacerdote soubesse o que era o sacerdócio morreria de felicidade; o que não ocorreu (morrer de felicidade quando soube o que era o sacerdócio) devido a uma graça especial, assim como aquela de Moisés, que viu a glória de Deus e não morreu de contente.


Pouco mais de cem anos, houve um outro sacerdote, Luís Maria Andreu, que se meteu um dia numa pequenina aldeia ao norte da Espanha, para ver se era certo isso de umas quatro pequeninas estarem vendo o grande São Miguel e a maior ainda Nossa Senhora. Ali se anunciava, dentre outras coisas, um “Grande Milagre” para o mundo. E ele viu. O “Milagre”. Horas depois estava morto, bem morto. Esse sim morrera de felicidade. O disse a própria Mãe de Deus às 4 mancebas. E não é coisa de duvidar.

Mas o que isso tem a ver? É que o Grande Milagre anunciado na pequena aldeia tem a ver com o sacerdócio, porque tem a ver com a Eucaristia.

Assim que vamos entendendo as pequenas coisas para não permanecermos grandes ignorantes.


Com os sinais dos tempos batendo às portas, começa-se a se pensar um pouco melhor nos Novíssimi, as “últimas coisas”; ao menos os que com os olhos que lhes foram dados desejam ver, e com os ouvidos, ouvir. Dos tantos temas da trama apocalíptica que vêm se desvelando, a coisa vem criando volume. Então, as gentes passam a se atentar aos grandes eventos, às catástrofes, ao caos de magnitudes para lá das sequoias e tal... E nisso tornam-se como o leão, que não tem olhos às coisas pequenas. Guardadas as devidas grandezas deste símbolo, do leão que não vê o pequeno sinônimo do mesquinho, insignificante etc, aqui o tomo em sentido oposto, que também cabe.

Como é necessário se fazer nestes tempos confusos, explico-me.
Um dia, disse Cristo: “aquele que é fiel no pouco o será também no muito...” (Lc XVI, 10). E isso que parece, apesar de óbvio, tão pequeno, como tudo o que é pequeno passa despercebido aos que só têm olhos às coisas grandes. Volumetricamente falando. Os que sofrem da tal mania de grandeza. A grande maioria de nós, portanto. E é aí que nos perdemos, e perderemos na hora de escolher entre os dois caminhos, ou das duas portas, o que dá no mesmo (cf. Mt VII, 13s).

Mas quero aproveitar o dia, esse em que comemoramos o que pode ser considerado o “Grande Milagre” por excelência, para tratar de um detalhe... que em boca de Jesus Cristo nunca é coisa de somenos importância.

Começo lembrando que ao falar nos tempos finais – que pelos sinais dos tempos e segundo o parecer de gente mais competente, são exatamente os que vivemos – Cristo aconselhou-nos a atentar às coisas aparentemente pequenas como rezar para que uma determinada fuga não ocorresse em dia de sábado ou no inverno (cf. Mt XXIV, 20), e o lamento com relação às mulheres que estiverem grávidas ou amamentando (cf. XXIV, 19). Como ainda disse para que em determinado momento nos refugiássemos nas montanhas (cf. XXIV, 15), isto é, saíssemos das cidades, especialmente as maiores.

Ocorre que devido a uma piedosa, mas nada racional exegese, foi-se resolvendo temas espinhosos como estes com interpretação espiritual, dando-lhe mesmo a primazia. Aquilo que aos nossos olhos de leão parecem coisinhas miúdas ou estranhas de serem interpretadas “ao pé da letra como fazem os protestantes”, as resolvemos com simbolismos, analogias, metáforas e alegorias. Assim ficamos muito bem obrigado, tranquilos em nossas consciências católicas. É que também fazemos, ainda que com a maior das boas intenções, nossas interpretações ao modo de um self-service, utilizando-nos da Tradição e o Magistério ao gosto pessoal, disfarçando nossa pouca sutileza aos detalhes divinos, ou nossa ignorância à boa exegese e hermenêutica. Desta forma olvidamos o de Santo Agostinho: que na interpretação das Escrituras o primeiro sentido é o literal; quando não destoe, lógico, do sentido comum, ou seja sinônimo de contrassenso.

Mas, há mais...

Ainda ontem um sacerdote amigo mostrava-me, com pesar, uma nova aberração sacrílega [me valendo dos superlativos, que aqui é o caso] em sua paróquia de origem, na cidade de Uberlândia-MG. Ali, esta semana, um jantar foi oferecido pelo pároco em comemoração não ao Cordeiro Imolado, mas a quem O imolou. Uma comemoração, portanto, judaica. Como não fosse pouco, realizada não no salão paroquial, mas no templo, lugar do Sacrifício. Tempos macabeicos...

Isso o que demonstra? Que já quase não há olhos de águia entre católicos, a começar pelo clero, que é por onde tudo começa, de bom e de ruim. O que quero dizer é que já não vemos mais o milagre, ainda que seja o maior do universo. Já não cremos que a Eucaristia É o Corpo, o Sangue, a Alma e da Divindade de Jesus Cristo: Deus que se fez Miséria, e Miséria que se fez Quase nada. Sequoia-gigante tornada Semente unicelular... De fato “não dá pra entender”. Pior, “não dá pra acreditar!”, tal como a maioria dos discípulos que o abandonaram ao descobrir que de animal racional que quis se tornar, agora se reduziria à coisa, e coisa para ser comida. É mesmo coisa demais para nossos grandiosos olhos de leão, mas cabeças de minhoca.

Daí o lugar do sacrifício se tornar o da ceia. Naturalmente acabaria servindo a qualquer ceia... mesmo a judaica, ou para os judeus, os que preferiram o cordeiro ao Cordeiro.

Mas Cristo disse que o fiel no pouco é o que seria no muito. E isso nos diz que somente os que optam de livre e espontânea vontade às coisas pequenas podem ser fiáveis para as grandes. Daí que quase já não se apercebe de que do pequeno também surgem grandes ruínas, grandes perdas: pequenos pensamentos, pequenas palavras, pequenos gestos, pequenas omissões... e perde-se, de amizades à negócios, de obras de misericórdia a pátrias e nações, de famílias inteiras a vida eterna.

Os demônios, como anjos que são, são seres que trabalham não somente nas sombras, mas nos detalhes. Para eles, estar à espreita, “como o leão buscando a quem devorar” (1 Pe V, 8), é o mesmo que nos deixar “até outra ocasião” (Lc IV, 13 – a propósito, as citações não estão de enfeite. Estão para serem consultadas a fim de se entender, quem não as sabe de cor como os protestantes, o sentido do todo). Enquanto isso vão estudando o inimigo, que somos nós, observando-nos os pontos fracos, cotejando sua água mole – e suja – na dura pedra de nossa fé, esperança e caridade, para ver se a furam o máximo possível.

Daí que isso de ser fiel no pouco seja para poucos, como já nos disse a Verdade. E sendo Ela quem o diga, penso que seja sensato dar crédito, fazendo o possível para estarmos neste pequeno número. Porque isso não é de pouca monta.

Esse é o real motivo pelo qual a maioria se deixará levar pela dupla bestialidade das Feras da Terra e do Mar (cf. Apo XIII). Porque serão levados pela grandiosidade dos “milagres e portentos” demoníacos (2 Tess II, 9), operados pelas mãos de um Falso Profeta e um Anticristo. Deste modo é que consentirão nas tentações do deserto, as mesmas que Cristo rejeitou por saber aonde iam dar (cf. Mt IV).
Não por acaso o discurso escatológico de Lucas XXI se inicia com a narrativa da viúva pobre (1-4), alertando-nos Jesus à grandiosidade das pequenas coisas, quando feitas com a reta intenção dos que buscam não altivezes, mas o Alto. Ao elevar a pobre e humilde viúva, nos dizia “cuidado com o grandioso, o volumoso, o ovacionado, o poderoso. Com os primeiros lugares, os reconhecimentos e honras, as multidões e as simpatias fáceis, e o dinheiro a todo custo, pois o sim ao mundo é o não a Deus”.
Por isso, ao se insistir em olhar para a Eucaristia com os olhos do corpo, se perde o sentido da vida, o morrer de felicidade, o milagre supremo. A Escritura diz que para o triunfo do Anticristo primeiro deverá ser abolido o “Sacrifício Perpétuo”, trocando-se o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo pela besta irracional que segue comendo capim até à hora da morte. Um rebaixamento, portanto, satânico.
O Sacerdócio vive especialmente para a Missa, e esta existe exclusivamente para a Eucaristia. Assim é que todos somos de Cristo, para sermos, como Ele, de Deus (cf. 1 Cor III, 22).
Se há, nestes tempos uma oração a ser feita, penso que deva ser esta: “Que tenhamos, Senhor, olhos para ver o invisível, ouvidos para ouvir o silencioso, e disposição para o diminuto; pois é necessário que diminuamos, para que cresças”.

Na Quinta-feira da Paixão de N.S.J.C, do ano da Graça de 2019.
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* É autor e tradutor de textos publicados pela internet, bem como tradutor dos livros Os Sermões de São Vicente Ferrer sobre o Anticristo e o Juízo Final e A época presente considerada como provavelmente a última do mundo, ambos pela Ed. Martyria (2018).

2 comentários:

  1. Ave MARIA,
    Parabens Airton pelo pensamento/meditacao qué nos levam a uma nostalgia de centurias dos varoes e damas de FE E VIRTUDES exemplares -que chamamos com justeza SANTOS/AS.
    Sim, estes tinham pequeos olhos diante do mundo(exatamente para nao verem as grandezas enganadoras deste mundo)mas qué viam com nitidez da Fe cega as grandezas escondias aos olhos dos grandes e reveladas aos pequeninos.
    Oxala, se encontre almas simples qué tenham olhos para entenderem e enxergarem no MISTERIO palpavel nos altares.... Morreriam de alegria ao discobrirem qué O EMANNUEL nao desceu somente Uma vez ha' 2000 Anos atras numa gruta em Belem...mas E'o mesmo qué desce cada dia na "gruta"das maos do Sacerdote no altar,e "enfaixado" pelos panos do corporale deitado na manjedoura dos nossos coracoes.

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    1. "O EMANNUEL nao desceu somente Uma vez ha' 2000 Anos atras numa gruta em Belem...mas E'o mesmo qué desce cada dia na "gruta"das maos do Sacerdote no altar,e "enfaixado" pelos panos do corporale deitado na manjedoura dos nossos coracoes."

      Reverendo Padre Antonius,

      Nestas "pequenas" linhas resumiu o senhor o fato meis importante desde há 2000 anos na história da humanidade. Oxalá tenhamos estes "olhos de águia", como os do "discípulo amado", para sobretudo amar ao Amor.

      Deus o abençoe em seu ministério, pois ai do mundo se não fossem os sacerdotes!

      Feliz Ressurreição do Senhor. Que viva Cristo Rei e Nossa Mãe Maria Santíssima!

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