sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Quando a terra treme

 



O terremoto que devastou regiões inteiras da Turquia e da Síria, abrindo uma fenda de mais de 300 quilômetros e deixando um saldo de mais de 25.000 mortos, é uma tragédia que deve nos motivar a refletir sobre a precariedade da vida humana e da ação de Deus na história.  Com efeito, a fé católica, e também a reflexão racional, diz-nos que Deus existe e que nada escapa à sua vontade. Tudo tem um sentido, um significado.

Lembro das polêmicas que surgiram quando, falando sobre o tsunami no Japão em 2011, e mais recentemente sobre a pandemia de covid, lembrei que Deus castiga. Ele reuniu essas intervenções em um livro intitulado Dio castiga il mondo (Deus castiga o mundo). Nessas páginas coloco o problema fundamental: Deus não é indiferente ao mal que os homens cometem. O mal cometido individualmente pelas pessoas, se não se arrependerem antes de morrer, é punido na eternidade. E o mal cometido pelos povos e nações é punido na história, porque os povos e nações não têm eternidade. Deus usa seus próprios homens para punir os pecados coletivos dos homens, e o faz por meio de guerras e revoluções; mas também se aplica à natureza, que parece se rebelar contra o homem que se rebela contra Deus.


Deus também fala conosco através de terremotos e furacões. Ele nos lembra de seu poder e nossa fragilidade. Ele nos lembra que não apenas nos julga com vistas à eternidade, mas também diante da história. O fim do mundo será uma catástrofe cósmica que o livro do Apocalipse nos apresenta de forma misteriosa: a ruína virá de todos os elementos que contribuem para a vida do homem. Terra, mar, rios, estrelas e árvores se tornarão instrumentos do castigo divino (Apocalipse 8,7-12). Mas os homens ficarão cegos e endurecidos e não reconhecerão a mão de Deus no castigo.

Embora isso aconteça no fim do mundo, continuará a acontecer ao longo da história, e especialmente em uma época como a nossa que parece prefigurar o fim dos tempos. O conspiracionismo generalizado é uma das muitas manifestações daquela cegueira que atribui tudo quando acontece à má ação do homem, excluindo por princípio a possibilidade de que Deus castigue.

Por exemplo, no Twitter e em alguns artigos lá publicados afirma-se que o terremoto que abalou a Turquia e a Síria teria uma causa artificial; teria sido gerado pelos Estados Unidos com a tecnologia HAARP, um programa científico americano que atua na ionosfera. O objetivo do terremoto artificial seria punir a Turquia disposta a deixar a OTAN para colaborar com a Rússia e a Síria de Assad.

Não há nenhuma demonstração política ou científica disso. Especialistas do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia da Itália explicaram que o terremoto ocorreu devido à fratura de uma falha em uma área de grande atividade sísmica. Essa explicação científica não contradiz a vontade de Deus, porque ele é o Criador do universo e senhor da natureza. As forças da natureza não se desencadeiam cegamente, do mesmo modo que o homem não pode intervir na história sem ser instrumento, ainda que inconscientemente, dos desígnios de Deus. Tudo está sujeito a Deus, que tudo dispõe para sua glória.

Hoje, usando o alcance da internet, pretende-se explicar o significado do que acontece sem Deus. Os homens sabem tudo menos que Ele existe. Eles sabem tudo, exceto que nada escapa da obra de Deus. Vivemos em uma era de loucura, porque a falsa sabedoria do mundo nega a existência de um Deus Criador que cuida de toda a criação, visível e invisível.

 

Apesar disso, Deus sempre é infinitamente misericordioso conosco, mesmo quando nos castiga. Quando estamos absortos em prazeres, tendemos a esquecê-Lo. Em vez disso, quando gememos de dor, levantamos nossos olhos mais facilmente para Ele implorando.

No momento mais negro da história, a terra tremeu quando Jesus morreu no Monte Calvário. Mas o centurião que havia perfurado o coração de Jesus com sua lança, viu a mão de Deus no terremoto e, cheio de medo, proclamou a divindade de Cristo. O Evangelho diz que o centurião e as sentinelas que guardavam o Senhor com ele ficaram com muito medo quando viram o terremoto e o que estava acontecendo, e disseram: "Verdadeiramente, este é o Filho de Deus!" (Mateus 27, 54).

Quando a terra treme, os homens também são vítimas do medo, que é o princípio da Sabedoria, e eles voltam, ou deveriam voltar, para Deus. Quando a terra tremer, o grito que deve sair do nosso coração deve ser o mesmo do centurião: “Deus existe e nós o ferimos! “

 

Roberto de Mattei

 

Fonte: Adelante la fé – Cuando tiembla la tierra


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