quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Sacramento da Eucaristia ( O Santo Sacrifício da Missa)




 Se entre todos os Sagrados Mistérios que Nosso Senhor e Salvador nos confiou, como meios infalíveis para conferir a divina graça, não há nenhum que possa comparar-se com o  Santíssimo Sacramento da Eucaristia: assim como não há crime que faça temer pior castigo por parte de Deus, do que não terem os fiéis devoção e respeito na prática de um  Mistério, que é todo santidade, ou antes, que contem em si o próprio autor e fonte da santidade.
Com muita perspicácia, alcançou o Apóstolo esta verdade. Tendo mostrado como era enorme o crime daqueles que não distinguem o Corpo do Senhor, e acrescentou: “ Por isso há tantos doentes e fracos, e muitos que chegam a morrer” (1 Cor 11,30).
Ora, o Evangelho indica-nos claramente, como se operou essa instituição.
Com efeito, depois de cerebrar com os Discípulos a Ceia do Cordeiro Pascal, para que a figura cedesse lugar à verdade, e a sombra ao fato concreto, “tomou Ele o pão, deu graças a Deus, benzeu-o e partiu-o, distribuindo aos Seus Discípulos, pronunciando as palavras: Tomai, e comei. Isto é o Meu corpo , que vai ser entregue por amor de vóz. Fazei isto em memória de Mim. Do mesmo modo, tomou também  cálice, depois da ceia, e disse: Este cálice é a nova Aliança no Meu Sangue. Fazei isto em Minha memória, todas as vezes que o beberdes”(Mt 26,26; Lc 22,19).
Eucaristia é um termo que se traduz em vernáculo por “boa graça”, ou também “ação de graça”. Com propriedade é o sentido que se da como “ação de graças”, pois que pela imolação dessa  Vítima puríssima rendemos, todos os dias, infinitas graças a Deus por todos benefícios recebidos, sobretudo pelo inefável dom de Sua Graça, que nos é outorgada neste Sacramento.

Chama-se igualmente “Comunhão”, termo que se deriva positivamente da passagem do Apóstolo: “ O cálice da bênção que benzemos não é porventura a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é por certo a participação do Corpo de Cristo” (1 Cor 10,16)?
Pode chamar-se sacramento da paz e caridade, para nos dar a entender quanto são indignos do nome cristão os que cultivam inimizades, e como se faz necessário exterminar radicalmente os ódios, rixas e discórdias.
Muitas vezes, os autores sagrados dão-lhe também o nome de “Viático”, por ser o alimento espiritual que não só nos sustenta na peregrinação desta vida, como também nos prepara o caminho para a eterna glória e felicidade.
Por esta razão,  a Igreja Católica observa o antigo preceito, que nenhum dos fiéis deve morrer, sem a recepção deste Sacramento.
Os mais antigos padres, baseado na autoridade do Apóstolo, quando deram algumas vezes o nome de “Ceia” à Sagrada Eucaristia, pelo fato de que Cristo Nosso Senhor a instituiu durante os salutares mistérios da última Ceia (1 Cor 11,20).
OBS.  Com isso, porém, não se quer dizer que seja lícito consagrar ou receber a Eucaristia, depois que se tenha comido ou bebito alguma coisa. Conforme diziam os antigos escritores, foram os Apóstolos que introduziram o salutar costume, desde então sempre mantido e observado, que as pessoas só recebam a Comunhão em jejum natural (nas missas matinais).
Nas missas vespertinas, ficar pelo menos 3 horas sem comer antes da comunhão.
Antes de tudo, porque, na consagração do Cálice é designado como “Mistério da fé”. Na Eucaristia concorrem os sinais externos e sensíveis de Sacramento, bem como a virtude de significar e produzir a graça. Ademais, nem os Evangelistas nem os Apóstolos deixam a menor dúvida de que foi instituída por Cristo (Mt 26,26; Mc 24,22; Lc 22,10)e já não precisamos recorrer a nenhuma outra argumentação.
Assim designavam às vezes a Consagração e a Comunhão, e amiúde o próprio Corpo e Sangue de Nosso Senhor, que se contêm na Eucaristia.
É necessário ressaltar, que, os outros Sacramentos só adquirem sua razão de ser pela aplicação da matéria, quando são administrados a qualquer pessoa. O Batismo, por exemplo, não surte seu efeito sacramental, senão no próprio instante em que alguém recebe realmente a ablução de água. No entanto, para a integridade sacramental da Eucaristia basta a consagração da matéria; ambas as espécies não deixam de ser Sacramento, ainda que guardada no cibório.
Apesar de serem dois elementos que constituem a natureza integral da Eucaristia, o pão e o vinho, dizemos contudo que eles não perfazem vários, mas um só  Sacramento.
Se compararmos, comida e bebida são duas coisas diversas, mas que empregam para a mesma finalidade, ou seja, para restaurar as forças do corpo. Por isso é que Nosso Redentor declarou: “ Minha Carne é verdadeiramente comida, e Meu Sangue é verdadeiramente bebida” (Jo 6,56).
As três recordações do Sacramento. A primeira, que já passou, é a paixão de Nosso Senhor. Ele próprio havia dito: “ Fazei isto em memória de Mim” (Lc 22,19). E o Apóstolo testemunhou: “ Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice, anunciareis a Morte do Senhor. Até que Ele venha” ( 1Cor 11,26).
A segunda é a graça divina e celestial, que o Sacramento confere no instante da recepção, para nutrir e conservar as forças da alma.
A terceira, reservada para o futuro, é o fruto da eterna alegria e glória que havemos de possuir na pátria celestial, em virtude da promessa feita por Deus.
Em primeiro lugar, apresentam-nos Cristo como a verdadeira vida dos homens. Nosso Senhor em pessoa havia dito: “Minha Carne é verdadeiramente comida e Meu Sangue é verdadeiramente bebida” (Jo 3,56). Ora se o Corpo de Nosso Senhor dá alimento para a vida eterna aos que recebem o Seu Sacramento com o coração puro e santificado, de muito acerto é que o Sacramento tenha, por símbolo, as matérias que conservam a nossa vida terrena, a Comunhão do Precioso Sangue de Cristo lhes nutre, plenamente, a alma e o coração.
A consagração do pão. Consoante a doutrina dos Evangelistas São Mateus e São Lucas, bem como do Apóstolo São Paulo (Mt 26,26; Lc 22,19; 1Cor 11,24), sabemos que essa forma consiste nas seguintes palavras: “Isto é o Meu Corpo”. Pois está escrito: Quando estavam na ceia, tomou Jesus o pão, benzeu-o, partiu-o, e deu-o aos Seus Discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é o Meu Corpo” (Mt 26,26).
Ora, como as palavras citadas declaram, de maneira explícita, o efeito que se opera, isto é, a conversão do pão no verdadeiro Corpo de Nosso Senhor, portanto, que elas mesmas constituem a forma da Eucaristia.
A consagração do vinho. Devemos crer, com inabalável certeza, que ela será contida nas seguintes palavras: “Este é o cálice do Meu Sangue, da nova e eterna Aliança, Mistério da Fé, o qual por vós e por muitos será derramado, em remissão dos pecados” .
As palavras exprimem certos efeitos admiráveis do Sangue derramado na Paixão de Nosso Senhor, efeitos que estão na mais íntima relação com este Sacramento.
Três efeitos da consagração.
Primeiro efeito: A presença real do Corpo e do Sangue de Cristo.  Quando Nosso Senhor diz: “ Isto é o Meus Corpo, este é o Meu Sangue” – nenhuma pessoa de bom-senso pode desconhecer o que tais palavras significam, tanto mais que se referem à natureza humana que era em Cristo uma realidade, conforme o que a fé católica a todos propõe como doutrina indubitável.
Depois de relatar como Nosso Senhor  consagrava o pão e o vinho, e dera aos Apóstolos os Sagrados Mistérios, o Apóstolo acrescenta: Examine-se, pois, o homem a si próprio, e assim coma deste pão e beba do cálice; por que quem come e bebe indignamente, come e bebe sua própria condenação, por não discernir o Corpo de Senhor (1 Cor 11,28).
Santo Agostinho no seu livro Catecúmenos, afirmou que neste Sacramento recebemos o verdadeiro Corpo de Cristo, assim como foi verdadeiramente tomado da Virgem.
São João Crisóstomo em muitas passagens de suas obras ensina a verdade deste dogma, principalmente na sexagésima Homilia sobre aqueles que comungam indignamente, bem como nas Homilias quadragésima quarta e quadragésima quinta sobre o Evangelho de São João.
Segundo efeito: Cessação das substância do pão e do vinho.  Pode este mistério provocar justamente a mais forte admiração, mas é uma consequência necessária da doutrina que acabamos de demonstrar.
É certo que não pode o Corpo de Cristo estar presente no Sacramento, por mudança de um lugar para o outro. Neste caso, viria a deixar as mansões do céu, pois nada se move, sem abandonar o lugar donde parte o movimento.
Só resta crer que o Corpo de Nosso Senhor está presente no Sacramento, porque o pão se converte no próprio Corpo de Cristo e o vinho no Seu Sangue.
O Concílio de Trento observa, que a Santa Igreja Católica, chama de “transubstanciação” essa portentosa conversão. Assim como a geração natural pode, adequadamente, chamar-se “transformação”, porque nela se efetua uma mudança de forma. Foi inventado o termo “transubstanciação”, porquanto, no sacramento da Eucaristia, a substância total de uma coisa se converte  na substância de outra coisa.
Vale lembrar que os santos Padres da Igreja sempre lembravam em não querer investigar com excessiva curiosidade, de que maneira se processa essa conversão, pois, não podemos conhecer com os sentidos, só pela fé podemos saber o que vem a ser.
Terceiro efeito: Subsistência das espécies. Como há pouco se demonstrou, neste Sacramento está realmente o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor, de sorte que já não existe nenhuma substância de pão e de vinho, pois tais acidentes não podem ficar inerentes  ao Corpo e ao Sangue de Cristo. Portanto, a única explicação possível é que eles se sustentam por si mesmos, sem se firmarem em nenhuma substância, por um processo que transcende toda lei da natureza.
Valor do Sacramento.  Se por Jesus Cristo vieram a graça e a verdade (Jo 1,17), é mister que uma e outra se derramem na alma de quem, com retidão e piedade, recebe Aquele que disse de Si mesmo: “Quem come a Minha Carne e bebe do Meu Sangue, permanece em Mim e Eu nele” (Jo 6,57).
Num comentário dessa passagem comentava São Cirilo: “ O Verbo de Deus, em Se unindo à própria carne, deu-lha a virtude de vivificar. Portanto, nada é mais consentâneo de que Ele se una aos nossos corpos de um modo misterioso, mediante a Sua sagrada Carne e o Seu precioso Sangue.
A Eucaristia é a graça primeira, com a qual deve estar previamente ornados todos aqueles que se atrevem a tocar com a boca a Sagrada Eucaristia, para não comerem  e beberem a própria condenação, pois, a Eucaristia é o fim último de todos os Sacramentos, é o emblema da mais estreita unidade da Igreja.
Não devemos tampouco duvidar que a Eucaristia tem por efeito remitir e apagar os pecados mais leves, pecados veniais. O que a alma perde, no ardor das paixões, quando comete pequenas faltas em matéria leve, a Eucaristia lho restitui integralmente, pela eliminação das próprias faltas menores.
Os Mistérios Eucarísticos possuem ainda a virtude de conservar-nos puros e limpos de pecados mortais, indenes nos assaltos das tentações, premunindo a alma como uma espécie de remédio celestial, para que o veneno de alguma paixão mortífera não possa facilmente contagiar e corromper.
Para exprimir numa só fórmula todos os frutos e graça deste Sacramento, cumpre-nos dizer que a Sagrada Eucaristia é sumamente eficaz para nos conseguir a vida eterna, pois está escrito: “Quem come da Minha Carne, e bebe do Meu Sangue, tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia (Jo 6,55)”.
Comunhão indigna. Existem pecadores, que não hesitam em tomar os Santos Mistérios, com a boca e coração manchados de impureza. São eles que, no dizer do Apóstolo, “comem e bebem indignamente o Corpo de Senhor (1 Cor 11,29)”. Por conseguinte, quem nesse estado de alma recebe os Santos Mistérios, além de não auferir fruto algum, “comem e bebem da própria condenação”, como no-la atesta o mesmo Apóstolo.
Comunhão Espiritual. Muitos recebem Eucaristia só espiritualmente. São aqueles que nutrem deste Pão Celestial, pelo desejo e a intenção de recebê-lo animados de uma fé viva, “que se torna operosa pela caridade”(Gl 5,6). Por essa prática, alcançam, senão todos os frutos, pelo menos grande abundância deles.
Comunhão digna e sacramental. Outros há, enfim, que tomam a Eucaristia, sacramental e espiritualmente. São os que examinam antes a si mesmos, como requer o Apóstolo (1 Cor 11,28), e se adornam com a veste nupcial (Mt 22,11), para então chegarem à mesa divina.
Devemos examinar, cuidadosamente, a nossa consciência, se não está talvez manchada de alguma culpa mortal, de que precisamos penitenciar-nos. Ela antes deve ser  extinta, antes de comungarmos, pelo remédio da contrição e da Confissão.  O Santo Concílio de Trento decretou que ninguém pode receber a Sagrada Eucaristia, se a consciência o acusa de algum pecado mortal; embora se julgue contrita, deve a pessoa purificar-se, antes, pela Confissão sacramental, contanto que haja a presença de um sacerdote.
De mais a mais, não só a alma, mas também o corpo precisa de certas disposições. Para nos aproximarmos da Sagrada Mesa, devemos estar em jejum, de sorte que não tenhamos comido nem bebido nada em absoluto, desde a meia noite antecedente até o momento de recebermos a Sagrada Eucaristia (em caso de missas matinais, em missas vespertinas, ficar em jejum até 3 horas antes da Comunhão).
Requer ainda a dignidade que as pessoas casadas se abstenham por alguns dias, a exemplo de Davi que, antes de receber o sacerdote aos pés da proposição, afiançou que eles e seus soldados, desde três dias estarem longe das esposas (1 Sam 21,5).
OBS: Vivemos num período de treva depois das mudanças feita pelo Concílio Vaticano II. A dessacralização da liturgia foi um golpe fatal na Missa, onde fiéis leigos (até mulheres) ficam dividindo altar com o sacerdote, seguindo a ideologia igualitária. Lembramos que no Concílio (Dogmático)de Trento,foi decidido só aos sacerdotes foi dado o poder de consagrar a Sagrada Eucaristia, e de distribuí-las aos fiéis cristãos. Sempre foi praxe da Igreja que o povo fiel recebesse o Sacramento pelas mãos dos  Sacerdotes, e os sacerdotes comungasse por si próprios, ao celebrarem os Sagrados Mistérios. Assim o definiu o Santo Concílio de Trento; e determinou que esse costume devia ser  religiosamente observado, por causa da origem Apostólica, e porque também Cristo Nosso Senhor nos deu o exemplo, quando consagrou Seu Corpo Santíssimo, e por Suas próprias mãos O distribuiu aos Apóstolos (Lc  22,19-20).
Eucaristia como Sacrifício. O que resta, agora, é encará-la como Sacrifício. Este Sacramento não é apenas um tesouro de riquezas celestiais, que nos garante a graça e o amor de Deus, quando usamos nas devidas disposições; mas tem ainda uma virtude particular, que nos põe em condições de agradecer a Deus os imensos benefícios que nos tem dispensado.
Há, porém, uma grade diferença entre estas duas noções. O Sacramento é consumado pela Consagração. O sacrifício tem toda sua razão de ser no ato de ofertar (Ml 1,11). Por isso quando conservada no cibório, ou levada a um enfermo, a Eucaristia tem caráter de Sacramento, que não de Sacrifício. Enquanto é Sacramento, torna-se ela causa de mérito para quem recebe a Divina Hóstia, confere-lhe todos os frutos espirituais, que acabamos de mencionar.. Enquanto é Sacrifício, possui a virtude não só de merecer como também de satisfazer. Assim como Cristo Nosso Senhor mereceu satisfazer por nós Sua Paixão:  da mesma forma, os que oferecem esse Sacrifício, pelo qual se põe em comunhão conosco, merecem os frutos da Paixão de Nosso Senhor e prestam satisfação.
O Santo concílio de Trento teve, porém, o cuidado de precisar que só a Deus se pode oferecer Sacrifício. Ainda que a Igreja costuma, às vezes, celebrar Missas em memória e honra dos Santos, contudo, sempre ensinou que o Sacrifício é oferecido, não a eles, mas unicamente a Deus, que coroou os Santos na Glória imortal.
Se buscarmos figuras e oráculos deste Sacrifício, no Antigo Testamento, encontraremos o que dele vaticinou Malaquias: Desde o nascer do sol até o ocaso, grande é o Meu Nome entre as nações; e, em todo lugar, é sacrificada e oferecida ao Meu Nome uma oblação pura (Ml 1,11).
O próprio Salvador, na última Ceia, ofereceu seu Corpo e Sangue , sob as espécies de pão e vinho e assim Se declarava constituído Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec.
Dizemos, portanto, que o Sacrifício que se oferece na Missa, e o sacrifício oferecido na Cruz são, e devem ser considerados como um único e mesmo Sacrifício. As vítimas cruenta e incruenta, não são tampouco duas vítimas, mas uma única, cuja imolação renova todos os dias na Eucaristia.
Pois é tão agradável ao Senhor o perfume desta Sacratíssima Vítima, que nos dar os dons da graça e da penitência, e desta maneira nos perdoa os pecados. Noutros termos, este Sacrifício incruento derrama, então, sobre nós os ubérrimos frutos do Sacrifício cruento.
A virtude deste Sacrifício não só aproveita a quem oferece e quem comunga, mas também a todos os fiéis cristãos, quer vivam conosco aqui na terra, quer tenham morrido no Senhor sem estarem de todo purificados. A estes últimos não é aplicado com menos fruto que se aplica aos vivos, por seus pecados, penas, satisfações, por qualquer desgraça e aflição. Assim o ensina, com absoluta certeza, a Tradição Apostólica.


Catecismo Romano II Parte; IV da Eucaristia.


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