No dia seguinte ao da
publicação da encíclica através da qual Leão XIII denunciou novamente ao mundo
a franco-maçonaria como sendo o agente secreto da guerra contra a Igreja e
contra toda a ordem social, o Bulletin de la Grande Loge Symbolique
Écossaise exprimiu o pensamento da seita nestes termos:
“O mínimo que a franco-maçonaria
pode fazer é agradecer ao Soberano Pontífice sua última encíclica. Leão
XIII, com uma autoridade incontestável e com grande luxo de provas, acaba de
demonstrar, mais uma vez, que existe um abismo intransponível entre
a Igreja, da Qual ele é o representante, e a Revolução, da qual a
franco-maçonaria é o braço direito. É bom que aqueles que estão hesitantes parem de
entreter vãs esperanças. É preciso que todos se habituem a compreender
que é chegada
a hora de OPTAR entre a ordem antiga, que se apoia na Revelação, e a nova ordem,
que não reconhece outros fundamentos que não sejam a ciência e a razão humana, entre
o espírito de autoridade e o espírito de liberdade”.
Também La
Lanterne, órgão oficioso de nossos governantes e da maçonaria, não cessou de dizer todos os dias e em
todos os tons: “Antes de qualquer outra questão, antes da questão social, antes da
questão política, é preciso terminar de vez
com a questão clerical. É a chave de todo o resto. Se cometermos o crime de capitular, de retardar nossa ação, de deixar o
adversário escapar, logo o partido republicano e a República estarão perdidos... A
Igreja não nos permitiria recomeçar a experiência. Ela
sabe hoje que a República ser-Lhe-á mortal, e se esta não A matar, é Ela
que matará a República. Entre a
República e a Igreja existe um duelo de morte.
Apressemo-nos em esmagar a
infame, ou resignemo-nos a deixar a liberdade sufocada
durante séculos”.
Os governantes são
interpelados nos diversos parlamentos, protestos são assinados pelos Conselhos
departamentais, municipais. Cinquenta e sete cidades da França decidem dar o
nome de Ferrer a uma de suas ruas.
A “espontaneidade” e o
conjunto prodigioso dessas manifestações por uma causa estranha aos interesses
dos diversos países indica uma organização que se estende a todos os povos, tendo
capacidade de ação até nas mais humildes localidades. Entre as peças do
processo de Barcelona, uma há que estabelece que Ferrer pertencia à grande loja
internacional, o misterioso centro de onde se exerce sobre o mundo o poder
oculto da Maçonaria.
OBS do blog: Isso
mostra como funciona até hoje nos meios de comunicação a nível mundial, sempre
tentando difamar e caluniar a imagem da Igreja perante a sociedade, fica claro
agora como esse processo é antigo e quem o comanda.
O conselho da ordem do
Grande Oriente de Paris enviou a todas as suas oficinas e a todas as potências
maçônicas do mundo, um manifesto de protesto contra a execução de Ferrer. Nele
o conselho reivindicava o revoltoso como um dos seus: “Ferrer era um dos nossos.
Ele sentiu que a obra maçônica exprimia o mais alto ideal que
pode ser dado ao homem realizar. Ele afirmou nossos princípios até o fim. O que
se quis atingir nele foi o ideal maçônico”.
O Grande Oriente da
Bélgica apressou-se em responder ao manifesto do Grande Oriente da França: “O
Grande Oriente da Bélgica, partilhando os nobres sentimentos que inspiraram a
proclamação do Grande Oriente da França, se associa, em nome das lojas belgas, ao
protesto indignado que este dirigiu à Maçonaria universal e ao mundo civilizado contra a
sentença iníqua pronunciada e impiedosamente executada relativamente ao Irmão
Francisco Ferrer”.
O Grande Oriente italiano e outros sem
dúvida fizeram o mesmo: “Francisco Ferrer, honra da cultura e do pensamento
modernos, apóstolo infatigável da ideia laica, foi fuzilado por ordem dos Jesuítas, no
horrível calabouço da fortaleza de Montjuich, no qual ainda ressoam os gritos de
inumeráveis vítimas... Um frêmito de horror percorreu o mundo, que, num sublime
impulso de solidariedade humana, amaldiçoou os autores conhecidos e ocultos da
morte e os vota à execração e à infâmia”.
O comitê central da Liga
maçônica dos direitos do homem, reunido em sessão extraordinária em 13 de
outubro de 1909, decidiu erguer um monumento à memória de Ferrer, “mártir do livre pensamento e do
ideal democrático”. Ele convidou todas as organizações do livre pensamento a contribuírem
para a realização desse projeto, e resolveu erguê-lo em
Montmartre, em frente à igreja do Sagrado Coração.
A maçonaria declarou,
pois, em palavras e em atos que ela considerava e defendia Ferrer como a
encarnação do “ideal maçônico”. Qual
era o ideal de Ferrer? Ele mesmo o proclamou em maio de 1907, na
revista pedagógica Humanidad Nueva, na
qual expôs os princípios da “Escola moderna” que acabava de fundar com dinheiro pouco
lealmente conseguido de um católico praticante e mesmo piedoso.
“Quando tivemos, faz seis anos, a imensa
alegria de abrir a Escola Moderna de Barcelona, apressamo-nos em divulgar que seu
sistema de ensino seria racionalista e científico. Queríamos
prevenir o público de que, sendo a ciência e a razão antídotos de todo dogma,
não ensinaríamos em nossa escola nenhuma religião...
“Se
as classes trabalhadoras se libertassem dos preconceitos religiosos e conservassem
o da propriedade tal como existe no momento, se os trabalhadores acreditassem
sem cessar na parábola que sempre haverá pobres e ricos, se o ensino racionalista se
contentasse em disseminar noções sobre higiene e as ciências em preparar
somente bons aprendizes, bons operários, bons empregados em todas as profissões, nós
continuaríamos a viver mais ou menos sãos e robustos com o modesto alimento que nos
proporcionaria nosso módico salário, mas
não deixaríamos de ser sempre os escravos do capital.
“Nosso racionalismo combate as guerras
fratricidas, sejam internas, sejam externas, a exploração do homem pelo homem;
ele luta contra o estado de servidão no qual se encontra atualmente colocada a
mulher em nossa sociedade; em uma palavra, ele combate os inimigos da harmonia
universal, como a ignorância, a maldade, o orgulho e todos os vícios e defeitos
que dividem os homens em duas classes: os
exploradores e os explorados”.
Numa carta endereçada a um
de seus amigos, Ferrer manifestava de maneira ainda melhor o pensamento de
sua escola: “Para não atemorizar as pessoas e para
não fornecer ao governo um pretexto para fechar meus estabelecimentos, eu os chamo
Escola Moderna e não Escola de Anarquistas. Porque
a finalidade de minha
propaganda é, confesso-o francamente, formar em minhas escolas anarquistas
convictos. Meu desejo é convocar a revolução. No momento, todavia,
devemos contentar-nos em implantar
no cérebro da juventude a ideia do saque violento. Ela deve aprender que não
existe, contra os policiais e a tonsura, senão um único meio: a bomba e o veneno”.
“Companheiros, sejamos homens, esmaguemos
esses infames burgueses... Antes de construir,
arruinemos tudo... Se entre os políticos alguns apelarem à vossa humanidade, matai-os... Abolição de todas as leis...
expulsão de todas as comunidades religiosas... Dissolução da Magistratura, do Exército e da
Marinha...Demolição das igrejas..”
Leão XIII expôs nestes
termos o fim que essa organização internacional persegue: “O desígnio supremo da
franco-maçonaria é DERRUBAR DE ALTO A BAIXO toda a
disciplina religiosa e social nascida das instituições cristãs, E DE
SUBSTITUÍ-LA POR UMA NOVA DISCIPLINA, moldada segundo sua ideia,
cujos princípios fundamentais e leis são emprestados do NATURALISMO”.
A ideia de substituir a
civilização cristã por uma outra civilização baseada no naturalismo, nasceu,
dissemos, na metade do século XIV; um esforço sobre-humano, continuado até nossos
dias, foi tentado para realizá-la no fim do século XVIII.
No entanto, indícios
sérios permitem acreditar que a ideia dos humanistas foi recolhida pela
franco-maçonaria. Existisse a maçonaria ou não antes deles, ela tentou a realização
dos seus desígnios no século XVIII e retomou-os em nossos dias com a
experiência que seu
insucesso lhe conferiu.
Os franco-maçons pretendem
fazer remontar suas origens ao templo de Salomão, e mesmo serem os herdeiros
dos mistérios do paganismo. A segunda geração dos humanistas, mais ainda do que
a primeira, introduziu nos espíritos uma maneira absolutamente pagã de conceber
a existência. Essa tendência devia enfim provocar a resistência da autoridade
suprema da Igreja. Foi o que aconteceu sob o reinado de Paulo II. Este Papa
renovou o corpo dos [abréviateurs] da chancelaria, fazendo sair todos os que
não eram de uma integridade e de uma honestidade perfeitas. Essa medida levou
aos últimos limites a cólera dos que lhe sofreram as consequências. Durante
vinte noites consecutivas eles assediaram as portas do palácio pontifício, sem
conseguirem ser recebidos. Um deles, Platina, escreveu então a Papa para
ameaçá-lo de ir procurar os reis e os príncipes, e de convidá-los a convocarem
um concílio diante do qual Paulo II teria que se desculpar por sua conduta.
Essa insolência acarretou-lhe a prisão na fortaleza Santo-Anjo.
Os demais fizeram reuniões
na casa de um deles, Pomponius Letus, do qual Pastor diz que “jamais talvez um sábio
tenha impregnado sua existência de paganismo antigo no mesmo grau que ele”. Ele
professava o mais profundo desprezo pela religião cristã e não cessava de se derramar em discursos
violentos contra seus ministros”.
Essas reuniões deram
nascimento a uma sociedade que eles chamaram Academia Romana. Uma multidão de
jovens, pagãos de ideias e de costumes, juntaram-se a ela. Ao entrar nesse
cenáculo, eles abandonavam seus nomes de batismo para tomar outros, tirados da
antiguidade, e escolhidos mesmo entre os mais mal afamados. Ao mesmo tempo,
apropriavam-se dos mais escandalosos vícios do paganismo. Valateranus reconheceu
que essas reuniões e as festas que aí se celebravam eram “o início de um movimento que
devia encaminhar-se para a abolição da religião”.
O historiador Gregovorius
não hesita em chamar essa Academia de “loja de franco-maçons clássicos”. A Academia tinha escolhido
as trevas das catacumbas para melhor esconder da autoridade a sua existência; e
dando aos seus
chefes os títulos de “padre” e de “Soberano Pontífice”, manifestava não ser uma
sociedade literária, mas uma espécie de igreja em oposição à Igreja Católica,
uma religião, essa religião humanitária ou essa religião da Natureza com a qual
a Revolução quis, mais tarde, na França, substituir a religião de Deus Criador,
Redentor, Santificador; e cuja adoção por todo o gênero humano, como veremos, a
seita almeja.
À impiedade e à
licenciosidade pagãs eles tinham dado
por companheira a ideia republicana. Num dos últimos dias de fevereiro de
1468, Roma soube, ao despertar, que a polícia acabava de
descobrir uma conspiração contra o Papa e de realizar numerosas prisões,
principalmente entre os membros da Academia. O projeto consistia em
assassinar Paulo II e proclamar a república romana.
É ao século XVI, diz N.
Deschamps, ao ano de 1535, que remonta o mais antigo documento autêntico das
Lojas maçônicas. Ele é conhecido pelo nome de Carta
de Colônia. Ele
nos revela a existência, já antiga, que remonta talvez a dois séculos, de uma ou de várias
sociedades secretas que existiam clandestinamente nos diversos Estados da Europa, e em
antagonismo direto com os princípios religiosos e civis que tinham formado a base da
sociedade cristã.
Tudo é notável nesse
documento: os fatos, as ideias e os nomes dos signatários. Ele nos revela a
existência e a atividade, há pelo menos um século o que nos leva além de Paulo II e da sociedade secreta dos humanistas , de uma
sociedade que já se estende a todo o universo, cercada do mais profundo segredo,
que tem iniciações misteriosas, obedece a um chefe supremo ou patriarca,
conhecido apenas de alguns mestres.
“Não obedecendo a nenhum poder do mundo,
dizem os signatários, e submissos somente aos superiores
eleitos de nossa associação espalhada pela terra inteira executamos suas
incumbências ocultas e suas ordens clandestinas através de um intercâmbio de cartas secretas
e por seus mandatários encarregados de missões
expressas”.
Dizem eles não permitir
acesso a seus mistérios senão àqueles que foram examinados e aprovados e
que se ligarão e consagrarão às suas assembleias mediante juramentos.
Caracterizam a distinção
entre eles e o mundo profano através destas palavras que encontramos em todos os
documentos da maçonaria: “O mundo iluminado” e “o mundo mergulhado nas trevas”,
palavras que exprimem a totalidade da franco-maçonaria, porque sua
finalidade é fazer passar das trevas do cristianismo à luz da pura natureza, da civilização cristã à civilização
maçônica.
Desses fatos vemos surgir
uma probabilidade séria, no sentido de que a franco-maçonaria teve uma parte
muito importante no movimento de ideias que se manifestou na Renascença, e que quis
se impor à sociedade cristã através da Reforma, seja por existir ela antes, seja
porque ela deva sua existência aos humanistas, que a teriam criado precisamente para
nela encarnar, de alguma maneira, sua concepção de vida da sociedade.
Nas suas origens a
franco-maçonaria devia estar envolta num segredo muito mais impenetrável do que
lhe é possível hoje, após a ação contínua durante vários séculos; daí a dificuldade em
recuperar suas pistas. Mas a participação que ela teve na Revolução dá aos
indícios que acabamos de recolher um valor probante que por si próprio não seria tão
grande; porque foi o pensamento dos humanistas, tal como o vimos, que a Revolução
quis realizar com a destruição da Igreja Católica e com o estabelecimento do culto
da natureza.
Durante muito tempo os
historiadores afastaram deliberadamente a franco-maçonaria da história; e por essa
razão apresentaram a Revolução sob uma perspectiva falsa e enganadora.
As maquinações da
franco-maçonaria nestes últimos tempos despertaram a atenção. Vemo-la
preparar-nos novas reviravoltas e novas ruínas. Perguntamo-nos se as
infelicidades e os crimes que marcaram o fim do século XVIII não lhe são
imputáveis. Maurice Talmeyr proferiu recentemente uma conferência que publicou
em seguida em brochura, sob o título La Franc-Maçonnerie et la Révolution
Française. Copin Albancelli, Prache e outros aplicaram-se, em diferentes
publicações, em fazer sair das trevas cuidadosamente cultivadas, a participação
que as sociedades secretas tiveram na Revolução. Para a sua demonstração
puderam aproveitar a obra publicada, há trinta anos, por N. Deschamps, sob o
título Les Sociétés Secrètes et la Société,
completada em 1880 por Claudio Jannet. E estes tinham oferecido larga contribuição
com uma obra anterior, publicada em plena Revolução, em 1789, por Barruel: Mémoires
pour servir à l'histoire du jacobinisme.
Essas Mémoires
não oferecem, como o título poderia fazer crer, documentos relacionados
à história dos crimes cometidos pelos jacobinos; o que Barruel, nos seus cinco volumes, se aplicou
em fornecer aos futuros historiadores do Terror, foram as informações que lhes
permitiriam estabelecer o ponto de partida, os agentes primeiros e as causas ocultas da Revolução. “Na
Revolução Francesa, diz ele, tudo, até suas perversidades mais
pavorosas, tudo foi previsto, meditado, combinado, resolvido, estabelecido;
tudo foi efeito da mais profunda maldade, posto que tudo foi amargo, dos homens
que possuíam, sozinhos, o fio das conspirações urdidas nas sociedades secretas,
e que souberam escolher e apressar o momento propício às conjurações”.
A convicção dessa
premeditação e dessas conspirações resulta da leitura de seus cinco volumes. No início do quarto, no
“Discurso preliminar”, ele pergunta: “Como os adeptos secretos do
moderno Spartacus (Weishaupt) presidiram todas as perversidades, todos os
desastres desse flagelo de pilhagem e de ferocidade chamado “Revolução”? Como
presidem eles ainda todos aqueles que ela medita para consumar
a dissolução das sociedades humanas?
Aquilo que está
acontecendo, aquilo a que nós assistimos, é o segundo ato do drama que começou no
século XVIII, para realizar a ideia da Renascença: substituir a civilização cristã por uma civilização dita moderna. É
a mesma Revolução, reavivada em seu fogo, com a intenção, que Barruel já
observara, de espalhar o incêndio a todo o mundo. Ele nos mostra esse desígnio,
essa vontade, expressos desde o começo do século XVIII. Poderão os conjurados
alcançar seus objetivos? É segredo de Deus, mas também nosso. Porque o
estratagema da Revolução depende do uso que nós quisermos fazer de nossa
liberdade, assim como dos decretos eternos de Deus.
A Conjuração Anticristã - O Templo Maçônico que quer
se erguer sobre as ruínas da I g r e j a C a t ó l i c a (Tomo I) - Monsenhor Henri Delassus.
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