Suponho que o excelente texto do Padre Luiz Carlos Lodi recentemente republicado aqui
tenha feito muito bem aos jovens – ou nem tão jovens – católicos que pretendem
ter um namoro santo, conforme a reta razão iluminada pela fé, para poderem ter
também um casamento santo. O namoro é preparação para o casamento. Assim, quem
quer ter um bom casamento, deve preparar-se bem. Casamento santo supõe
preparação santa, supõe namoro santo. Gostaria, porém, de acrescentar alguns
pontos quanto (1º) à duração do namoro católico e (2º) quanto à finalidade do
namoro, que o Padre define corretamente como “conhecer a alma do outro”.
Finalmente, (3º) gostaria de tratar com um pouco mais de precisão das
consequências prejudiciais dos pecados contra a pureza entre namorados.
(1º) Duração do namoro. Quando falamos
aqui de namoro, falamos de todo o tempo e de todo e processo que antecedem ao
matrimônio, incluindo, portanto, namoro e noivado. A duração do namoro deve ser
a duração necessária para que ele possa atingir a sua finalidade. A finalidade
do namoro consiste em “conhecer a alma do outro”. A finalidade do namoro é
conhecer o que o outro pensa, é avaliar e examinar, com a seriedade devida, as
probabilidades que o casal tem de atingir o fim último do matrimônio: a
santidade dos cônjuges e dos filhos. Essa avaliação e exame devem considerar as
qualidades, as relações, o ambiente social, etc., de ambos, com tudo aquilo que
pode e costuma influenciar na formação de um lar católico, com tudo aquilo que
pode e deve contribuir para assegurar o cumprimento dos graves deveres que pesam
sobre os casados (Peinador, Consultorio Moral Popular, p. 63). Para maiores
detalhes quanto a esse conhecimento ver a 2ª Parte.
Um namoro que ficasse aquém do tempo necessário
para que esse conhecimento mútuo ocorresse seria imprudente: casar-se com alguém
que não se conhece bem é abrir as portas para vários problemas e conflitos.
Estender esse tempo além do que é suficiente para ter esse conhecimento mútuo,
também é imprudente: o surgimento de familiaridades indevidas, multiplicação das
ocasiões de pecado e a perda do respeito devido. É evidente que é impossível
estabelecer um tempo preciso para todo e qualquer namoro, pois a consecução
desse conhecimento mútuo depende de vários aspectos, como, por exemplo, do
conhecimento precedente que tinham um do outro ou das informações seguras que
puderam receber do outro, etc… Todavia, em geral, pode-se dizer que o namoro
deve durar entre um ou dois anos (Padre François Dantec, Fiançailles
Chrétiennes, p. 79). Menos de um ano parece pouco tempo para se conhecer
suficientemente o futuro cônjuge. Mais de dois, há grande perigo de
familiaridades indevidas surgirem. Se duas pessoas sérias não se conheceram
suficientemente em dois anos, há aí um problema.
Tudo isso significa que o namoro não deve começar
sem que haja a previsão de que o casamento ocorra em um curto prazo (um, dois
anos). Portanto, ao começar o namoro, o casal já deve ter condições de casar ou
ter esperança fundada de ter condições de casar em curto prazo. A razão disso,
como diz o Padre Peinador (obra citada), é que o namoro é certa ocasião de
pecado que só pode ser considerada como necessária para quem pode e deve se
casar, porque Deus os chama a isso. Para casar é necessária essa proximidade
maior entre o homem e a mulher, a fim de que possam ter suficiente conhecimento
da alma um do outro. Nessa situação de proximidade necessária, Deus dá as graças
para que não se caia em tentação, se o casal toma as medidas necessárias para
evitar o pecado.
Para aqueles que têm intenção de se casar em tempo mais ou
menos longínquo – por qualquer motivo que seja – o namoro se torna uma ocasião
de pecado voluntária e não mais necessária. Ora, é bem sabido que é lícito
colocar-se em ocasião necessária de pecado, tomando as devidas precauções para
evitar o pecado. Colocar-se em ocasião voluntária, quer dizer, colocar-se em
ocasião de pecado grave sem haver necessidade para tanto (como no caso em que
tratamos, sempre seguindo o Peinador) não pode ser lícito, pois é uma forma de
tentar Deus: não fazemos nossa parte, mas esperamos de Deus a graça eficaz para
não cair.
Dessa forma, para poder iniciar um namoro, que é
sempre em vista do casamento, é preciso que ambos já tenham condição de casar ou
que esperem tê-la em curto prazo (um, dois anos). Segue, como consequência,
também a obrigação grave de não começar o namoro na adolescência, sem falar da
falta completa de sentido do denominado “ficar”. Ainda segundo o Peinador, é
preciso interromper o trato mais próximo quando causas imprevistas atrasam em
demasia a realização do matrimônio. É também claro que existe a obrigação de acabar
com todo relacionamento quando se chega à conclusão de que é impossível uma
futura convivência conforme à lei de Deus e às exigências da consciência
católica. Aqui, é preciso que a razão, inspirada pelo desejo de assegurar a vida
eterna, faça a decisão. Não deve ser o coração, o sentimento, a tomar tal
decisão, mas a razão iluminada pela fé.
Fonte: Scutum Fidei - Namoro católico (i): duração do namoro
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