domingo, 23 de julho de 2017

O que diz o cardeal Sarah sobre a família seria delito em vários países

A retórica dos críticos de Sarah revela que os católicos liberais se converteram em nacionalistas eclesiais.
El Cardenal Robert Sarah / Wikipedia

Um grupo de críticos “pede a cabeça de Sarah na bandeja” em várias revistas católicas liberais e inclusive clamam a que o cardeal seja substituído, aponta o autor Matthew Schmitz em um artigo em Catholic Herald no que aporta citações de National Catholic Reporter, The Tablet e de Commonweal.
“Sarah não foi sempre tratado como o homem mais perigoso da cristandade. Quando em 2014 o Papa Francisco o nomeou prefeito da Congregação para o Culto Divino, foi bem recebido incluso pelos que hoje lhe criticam”.
O prefeito era visto como um homem do Vaticano II, um africano favorável à inculturação, um clérigo não ambicioso, cálido e modesto.


“As duas bestas do Apocalipse”
Tudo isto mudou em função da intervenção de Sarah em outubro de 2015, no terceiro dia do Sínodo sobre a família. Robert Sarah disse ali: “Temos de ser inclusivos e acolhedores ante tudo o humano”. Mas a Igreja deve proclamar a verdade frente a dois grandes desafios: “Por uma parte, a idolatria da liberdade no Ocidente; de outra, o fundamentalismo islâmico: o secularismo ateu contra o fanatismo religioso”.
De jovem, Sarah estudou na Escola Bíblica de Jerusalém e fez a tese sobre uns capítulos do livro de Isaías. Não é raro, pois, que empregara uma linguagem bíblica para expor sua postura.
Em seu discurso do Sínodo assinalou que a atual ideia de liberdade do Ocidente e o fundamentalismo islâmico eram como as duas bestas do Apocalipse” que atacam a Igreja.
Uma ameaça monstruosa leva a abraçar a outra. O temor à repressão religiosa induz a alguns a converter a liberdade em um ídolo. E os ataques à natureza humana fazem que outros sintam a tentação de abraçar a falsa segurança do fundamentalismo religioso, que tem sua mais horrível expressão na bandeira negra do ISIS. Contra ambos há que resistir, como sucedeu no século XX com o comunismo e o nazismo.
Ao que parece, o discurso do cardeal suscitou polêmica. O arcebispo Stanislaw Gadecki, presidente da conferência episcopal polaca, escreveu que a intervenção esteve “a um grande nível intelectual e teológico”, mas a outros não lhes agradou.
Uma semana depois, o cardeal Walter Kasper assegurou que na Alemanha a grande maioria quer uma abertura sobre o divórcio e os católicos ‘recasados’. Também reconheceu que os bispos africanos não compartilhavam tal enfoque. “Mas não deveriam dizer-nos o que temos que fazer”. Ao que outros responderam que as palavras de Kasper não pareciam muito respeitosas com os bispos africanos.
O vaticanista Massimo Faggioli fez notar que o discurso de Sarah poderia ser perseguido como delito em alguns países. Ao que Schmitz comenta que como Sarah desenvolveu durante anos seu ministério episcopal sob a brutal ditadura marxista de Sékou Touré na Guiné, não necessita que lhe recordem que uma aberta profissão de fé cristã pode ser vista como um crime.
Nacionalismo eclesial
Schmitz pensa que: “a retórica dos críticos de Sarah revela algo importante sobre a vida católica atual: nas disputas doutrinais, morais e litúrgicas, os católicos liberais se converteram em nacionalistas eclesiais”.
Schmitz: “Os católicos tradicionais não se escandalizam pelo modo em que os africanos falam da homossexualidade ou os cristãos do Oriente Médio sobre o islamismo”
Os católicos tradicionais –escreve Schmitz– tendem a propugnar uma doutrina e enfoques pastorais concordantes acima das fronteiras nacionais. Ainda que não prefiram a Missa em latim, querem que as traduções às línguas vernáculas sejam tão fiéis como seja possível ao original latino. Não se escandalizam pelo modo em que os africanos falam da homossexualidade ou os cristãos do Oriente Médio sobre o islamismo”.
Em troca, os católicos liberais apoiam que as traduções litúrgicas se adaptem ao estilo idiomático nacional e que sejam aprovadas pela conferência episcopal do país, e não por Roma. A realidade local requer que a verdade seja recortada quando atravessa a fronteira. As afirmações doutrinais católicas deveriam ser formuladas em uma linguagem pastoralmente sensível, isto é, acomodadas às sensibilidades do Ocidente rico e educado”.
Uma das vantagens do nacionalismo eclesial é que permite que os liberais não tenham que debater em um terreno diretamente doutrinal, no que os rigoristas tendem a prevalecer. Se a verdade tem que passar pelo filtro das realidades locais, ninguém em Roma ou em Abuja tem nada que dizer sobre a fé em Bruxelas ou em Stuttgart”.
A força do silêncio
É notável, diz Schmitz, que Sarah tenha experimentado esta avalanche de ataques com tanta elegância. Em seu novo livro A força do silêncio, ouvimos este desabafo: “Tenho vivido um doloroso assassinato pelas mãos da calúnia, a difamação e a humilhação pública, e tenho aprendido que, quando uma pessoa decide destruir-te, não lhe fazem falta palavras, nem sanha, nem hipocrisia: a mentira tem um imenso poder de elaborar argumentos, provas e falsas verdades. Quando esse comportamento procede de homens de Igreja e, em especial, de bispos ambiciosos e falsos, a dor é ainda mais profunda. Mas (…) conservemos a calma e o silêncio, pedindo a graça de não permitir que nos invadam o rancor, o ódio e os sentimentos mesquinhos. Nos mantenhamos firmes no amor a Deus e a sua Igreja, firmes na humildade”.
Seu livro advoga pela “reforma da reforma” na liturgia, porque “está em jogo o futuro da Igreja”

Mas Sarah se mantem incólume. Seu livro advoga pela “reforma da reforma” na liturgia, porque “está em jogo o futuro da Igreja”. Rejeita as intervenções ocidentais no Iraque, Líbia, Afeganistão e Síria, como tremendas libações de sangre em nome da “Deusa Democracia”. E se opõe ao empenho de construir “uma religião sem fronteiras e uma nova ética global”.
“Este livro –conclui Schmitz– mostra que Sarah tem muito que dizer sobre a vida mística, a Igreja e os assuntos mundiais. Mas a maioria das vezes Sarah prefere guardar silêncio, enquanto o mundo fala dele”.

Fonte: Actuall - Lo que dice el cardenal Sarah sobre la familia sería delito en varios países

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