domingo, 24 de fevereiro de 2019

UNIVERSIDADE PARA TODOS X RESPEITO ÀS DIVERSIDADES


Por Airton Vieira*
(tonvi68@gmail.com)


Nota: Recentemente o Ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez[1] se pronunciou sobre algo que desde que o homem é homem já se sabe, mas que com décadas de embrutecimento maciço já se desaprendeu, como desaprendemos o elementar de tudo: que as universidades não são para todos, estrito senso. Daí que o dito pronunciamento já mereça – pra ficar em uma interjeição atual – o “mimimi” de muitos, inclusive doutos. Lembrei-me então, após ouvir o Ministro, desse texto publicado há uns anos, que agora sofre pequenas mudanças para tornar-se apresentável ao leitor, porque somente sofrendo é que se cresce. Ei-lo:

Esta Comunicação objetiva debater uma prática cada vez mais difundida em nosso (pós)moderno sistema educacional, inserida no programa federal “Universidade para todos”. Ela se traduz no que Amilton Werneck cunhou como a política do “você finge que ensina e eu finjo que aprendo”.

Para auxiliar esta modesta contribuição, tomo inicialmente a citação de Carlos Ramalhete, em seu artigo “Universidade para quem?”:[2]



Por mais que doa ao igualitarismo feroz que hoje domina a sociedade, é necessário reconhecer que o ensino superior deve forçosamente ser restrito para que continue sendo superior. Não falo de restrições financeiras, mas de uma restrição natural: a intelectual.

Há quase quatro décadas fiz meu curso primário. Hoje não o troco pela grande maioria das faculdades. Ocorre que minha preferência não caminha só, pois muitos míopes e astigmáticos como eu vêm enxergando o que enxergo. Sinal de fumaça!

Casualidade ou não, especialmente a partir do tão afamado “acordo” cinquentão MEC-USAID o ensino brasileiro vem degringolando a olhos vistos: alunos não mais reprovados, professores não mais reprovando; escolas não mais delimitando necessárias diferenças enquanto acentuam absurdas igualdades; conteúdos e metodologias se espumando num mar de relatividades; professores paulatinamente perdendo qualidade e moral, ao tempo em que aumentam os laudos psiquiátricos e venda de tarja preta entre o público docente; ensino médio profissionalizante (Técnico) e de formação de professores (Normal) diluídos no superior, que passa a ofertar cursos como o de visagismo e estética capilar (para fazer a cabeça da moçada?); tudo terminando por desaguar na igualitária política de inclusão que na prática não passou de simples mas bem arquitetada política de intrusão. Verdadeiro laissez-faire, laissez fassett.

(...) que docente em sã consciência não lastima o nível vertiginosamente deplorável de seus alunos, os mesmos que muito em breve receberão de seus próprios discentes idênticos reclames, se assim optarem pela carpida profissão? Ou qual mestre comprometido com a sua profissão não carrega a angustiante percepção do desastre que causou e continua causando uma política tão nefasta quanto à da “Universidade para todos”, posto que direitos não devam advir de acidentes como os de cor de cabelo, número do sapato ou variação de quilogramas, mas de caráter, capacidade, virtuosismo, desempenho etc?

Não percebendo (?!) que o sofisma “Universidade para todos” vai de encontro a outro, de mesma matriz, o do “Respeito às diversidades”, o governo continua trombando, ou melhor, dando trombadas com suas desastradas e desastrosas políticas de cunho social-liberal, cujo reflexo na Educação já ultrapassa a transparência. Então, vejamos: como respeitar as diversidades obrigando universidades a receber e (tentar!) formar um público sem aptidão natural para a dinâmica universitária, que como observou acima Ramalhete não foi feita para todos, mas para alguns, os mais aptos intelectualmente? Ou se continuará negando – o que é praxe no liberalismo igualitário – que os indivíduos sejam diferentes, portadores de qualidades específicas e distintas tendências, cuja maioria não converge a um estudo sistemático e meticuloso como o do (que foi e deveria tornar a ser) superior? Ou se continuará a negar que os Q.I’s obedecem à lei da igualdade não à força de mecanismo artificial ou ideológica, mas por sua característica natural biológica? Por que então insistir em promover a intrusão de um público que naturalmente não deveria ser o acadêmico, na Academia? Por que aprovar compulsoriamente para depois conduzi-lo ao patíbulo e à guilhotina universitários? Por que não deixar dedicar-se às capacidades natas que possui e das quais daria cabo sem precisão de togas ou canudos? Por que ainda a submissão à ditadura dos números, forjados “para usaid ver”?

Há que bem esclarecer, como tudo hoje em dia, que o que vai acima não é apologia à discriminação, preconceito ou racismo, termos caros aos defensores dos ECA’s, Direitos Humanos, cotas e minorias. Trata-se simplesmente de pôr ordem na casa aplicando a máxima popular do “cada macaco no seu galho”, para que assim todos sejam de fato respeitados em sua real diversidade. Isto é que é respeito, e este é o respeito que resultará no bom funcionamento do tecido social, de per se e sabiamente desigual.

Toda verdade não é nada além do óbvio. Em consequência, a liberdade ao erro e à mentira, como ocorre em relação à falsa ideia de que à Universidade deve-se “liberar geral”, é um glaucoma que vem obscurecendo a límpida visão do óbvio, que nos atesta a todo o momento que nivelamentos necessariamente se dão por baixo, portanto pelo inferior. Daí que não será mero acaso o gritante declínio do ensino nas últimas décadas, permitindo demagogicamente “acompanhar a lição” quem aterrissa ao nível superior sem saber ler ou escrever, em sentido lato. Tal público após usurpar a vaga alheia não tardará a derivar, evidenciando a realidade de que, por um lado estamos lotados de calouros sem a mínima vocação, mérito ou capacidade para o ensino de cunho superior, o que compromete alunos, professores, cursos, universidades e sociedade em geral; por outro, sobretudo em um sincero respeito às diversidades, a universidade jamais deveria ser para todos.

Daí que, ou protegemos o Ensino Superior e a Universidade como filhos dedicados a pais enfermos ou continuaremos com o monólogo de duas diversidades inferiores: uma fingindo que ensina a outra que finge aprender.

Sentemos sobre a ponta do iceberg e reflitamos, acadêmica, mas urgentemente!

Em tempo: o que disse o Ministro, em resumo, é que o ensino deve ser acessado a todos, entretanto, há formas e locais distintos de ser oferecido, e estes devem respeitar às especificidades [diversidades] de cada um, pois nem todo mundo possui aptidão para todas as formas de ensino sistematizado. Uns são para o superior, outros o técnico e por aí vai. São Paulo (cf. Rom XII) já o dizia, há quase dois mil anos. O Ministro tão somente lhe faz eco.

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* É autor e tradutor de inúmeros artigos publicados pela internet, bem como tradutor dos livros Os Sermões de São Vicente Ferrer sobre o Anticristo e o Juízo Final e A época presente considerada como provavelmente a última do mundo, ambos pela Ed. Martyria (2018).



[1] Ver: <https://www.youtube.com/watch?v=0yhGMZj3BVA>. Acesso em: 19 fev. 2019.
[2] Em: www.horadesj.org.br.

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