Por
Airton Vieira*
(tonvi68@gmail.com)
Nota:
Recentemente o Ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez[1] se
pronunciou sobre algo que desde que o homem é homem já se sabe, mas que com
décadas de embrutecimento maciço já se desaprendeu, como desaprendemos o
elementar de tudo: que as universidades não são para todos, estrito senso. Daí
que o dito pronunciamento já mereça – pra ficar em uma interjeição atual – o
“mimimi” de muitos, inclusive doutos. Lembrei-me então, após ouvir o Ministro,
desse texto publicado há uns anos, que agora sofre pequenas mudanças para
tornar-se apresentável ao leitor, porque somente sofrendo é que se cresce.
Ei-lo:
Esta Comunicação objetiva debater
uma prática cada vez mais difundida em nosso (pós)moderno sistema educacional,
inserida no programa federal “Universidade para todos”. Ela se traduz no que
Amilton Werneck cunhou como a política do “você finge que ensina e eu finjo que
aprendo”.
Para auxiliar esta modesta
contribuição, tomo inicialmente a citação de Carlos Ramalhete, em seu artigo “Universidade para quem?”:[2]
Por
mais que doa ao igualitarismo feroz que hoje domina a sociedade, é necessário
reconhecer que o ensino superior deve forçosamente ser restrito para que
continue sendo superior. Não falo de restrições financeiras, mas de uma
restrição natural: a intelectual.
Há quase quatro décadas fiz meu curso
primário. Hoje não o troco pela grande maioria das faculdades. Ocorre que minha
preferência não caminha só, pois muitos míopes e astigmáticos como eu vêm
enxergando o que enxergo. Sinal de fumaça!
Casualidade ou não, especialmente
a partir do tão afamado “acordo” cinquentão MEC-USAID o ensino
brasileiro vem degringolando a olhos vistos: alunos não mais reprovados,
professores não mais reprovando; escolas não mais delimitando necessárias
diferenças enquanto acentuam absurdas igualdades; conteúdos e metodologias se
espumando num mar de relatividades; professores paulatinamente perdendo
qualidade e moral, ao tempo em que aumentam os laudos psiquiátricos e venda de
tarja preta entre o público docente; ensino médio profissionalizante (Técnico) e de
formação de professores (Normal) diluídos no superior, que passa a ofertar
cursos como o de visagismo e estética capilar (para fazer a cabeça da
moçada?); tudo terminando por desaguar na igualitária política de inclusão que
na prática não passou de simples mas bem arquitetada política de intrusão. Verdadeiro
laissez-faire, laissez fassett.
(...) que
docente em sã consciência não lastima o nível vertiginosamente deplorável de
seus alunos, os mesmos que muito em breve receberão de seus próprios discentes
idênticos reclames, se assim optarem pela carpida profissão? Ou qual mestre
comprometido com a sua profissão não carrega a angustiante percepção do
desastre que causou e continua causando uma política tão nefasta quanto à da
“Universidade para todos”, posto que direitos não devam advir de acidentes como
os de cor de cabelo, número do sapato ou variação de quilogramas, mas de
caráter, capacidade, virtuosismo, desempenho etc?
Não percebendo
(?!) que o sofisma “Universidade para todos” vai de encontro a outro, de mesma
matriz, o do “Respeito às diversidades”, o governo continua trombando, ou melhor,
dando trombadas com suas desastradas e desastrosas políticas de cunho social-liberal,
cujo reflexo na Educação já ultrapassa a transparência. Então, vejamos: como
respeitar as diversidades obrigando universidades a receber e (tentar!)
formar um público sem aptidão natural para a dinâmica universitária, que como
observou acima Ramalhete não foi feita para todos, mas para alguns, os mais
aptos intelectualmente? Ou se continuará negando – o que é praxe no liberalismo
igualitário – que os indivíduos sejam diferentes, portadores de qualidades
específicas e distintas tendências, cuja maioria não converge a um estudo
sistemático e meticuloso como o do (que foi e deveria tornar a ser) superior?
Ou se continuará a negar que os Q.I’s obedecem à lei da igualdade não à força de mecanismo artificial ou
ideológica, mas por sua característica natural biológica? Por que então
insistir em promover a intrusão de um público que naturalmente não
deveria ser o acadêmico, na Academia? Por que aprovar compulsoriamente para
depois conduzi-lo ao patíbulo e à guilhotina universitários? Por
que não deixar dedicar-se às capacidades natas que possui e das quais daria
cabo sem precisão de togas ou canudos? Por que ainda a submissão à
ditadura dos números, forjados “para usaid ver”?
Há que bem
esclarecer, como tudo hoje em dia, que o que vai acima não é apologia à
discriminação, preconceito ou racismo, termos caros aos defensores dos ECA’s,
Direitos Humanos, cotas e minorias. Trata-se simplesmente de pôr ordem na casa
aplicando a máxima popular do “cada macaco no seu galho”, para que assim todos
sejam de fato respeitados em sua real diversidade. Isto é que é
respeito, e este é o respeito que resultará no bom funcionamento do tecido
social, de per se e sabiamente desigual.
Toda verdade não
é nada além do óbvio. Em consequência, a liberdade ao erro e à mentira, como
ocorre em relação à falsa ideia de que à Universidade deve-se “liberar geral”,
é um glaucoma que vem obscurecendo a límpida visão do óbvio, que nos atesta a
todo o momento que nivelamentos necessariamente se dão por baixo, portanto pelo
inferior.
Daí que não será mero acaso o gritante declínio do ensino nas últimas décadas,
permitindo demagogicamente “acompanhar
a lição” quem aterrissa ao nível superior sem saber ler ou
escrever, em sentido lato. Tal público após usurpar a vaga alheia não tardará a
derivar, evidenciando a realidade de que, por um lado estamos lotados de calouros
sem a mínima vocação, mérito ou capacidade para o ensino de cunho superior,
o que compromete alunos, professores, cursos, universidades e sociedade em
geral; por outro, sobretudo em um sincero respeito às diversidades, a universidade
jamais deveria ser para todos.
Daí que, ou
protegemos o Ensino Superior e a Universidade como filhos dedicados a pais
enfermos ou continuaremos com o monólogo de duas diversidades inferiores: uma
fingindo que ensina a outra que finge aprender.
Sentemos sobre a
ponta do iceberg e reflitamos, acadêmica, mas urgentemente!
Em tempo: o que disse o Ministro, em resumo, é que o ensino deve ser
acessado a todos, entretanto, há formas e locais distintos de ser oferecido, e
estes devem respeitar às especificidades [diversidades] de cada um, pois nem
todo mundo possui aptidão para todas as formas de ensino sistematizado. Uns são
para o superior, outros o técnico e por aí vai. São Paulo (cf. Rom XII) já o
dizia, há quase dois mil anos. O Ministro tão somente lhe faz eco.
___________________
* É autor e tradutor de
inúmeros artigos publicados pela internet, bem como tradutor dos livros Os Sermões de São Vicente Ferrer sobre o
Anticristo e o Juízo Final e A época
presente considerada como provavelmente a última do mundo, ambos pela Ed.
Martyria (2018).
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