Tradução: Gercione Lima
O Ocidente secular, como é conhecido, exige que cada religião esteja confinada ao privado. "Religião e política devem permanecer separados" e ordena: que o político deixe a sua fé (se ele tiver uma) no armário antes de entrar no Parlamento; que nenhuma autoridade se atreva a criticar atos legislativos que legalizem vícios (sodomia e drogas), assassinato (o aborto) e pecados, com o argumento de que existe uma distinção entre o Bem e o Mal, que as leis devem ser preservadas; ou pior, que aleguem que violam os Dez Mandamentos: caso contrário ele será acusado de "ingerência intolerável" ou de querer impor "dogmas" contra a liberdade do homem finalmente liberto de todos os tabus, caso contrário será excluído do espaço público.
O secularismo absoluto, no entanto, comporta uma exceção. Muito vistosa. Existe uma religião que deve ser publicamente e obrigatoriamente professada - como numa certa época o foi a religião do Estado Romano, que impunha aos cidadãos queimar um grão de incenso para o César reinante, reconhecendo a sua divindade. Na verdade, é a única religião que se manteve como obrigatória por lei. A "religião do Holocausto" deve ser professada publicamente, na frente das câmeras e jornalistas, por todas as figuras públicas; governantes que querem ter legitimidade internacional, políticos que querem parecer respeitáveis, mas especialmente papas, devem ritualmente dirigir-se a Auschwitz e cumprir o ritual prescrito. Um ritual de arrependimento público em que o distinto reconhece sua parcela na culpa inexpiável de ter - como um membro da raça humana - participado no genocídio do povo eleito. Uma mancha que obscurece qualquer homem, pelo simples fato de ter nascido - como o pecado original de Adão.
Em qualquer outra religião, o indivíduo é livre para se declarar agnóstico e não-crente; na verdade, ele pode até blasfemar contra o Deus dos outros, ou o seu Profeta, e será exaltado como um herói da liberdade de expressão, ou um mártir (veja redação de Charlie Hebdo). Na única Religião Remanescente não é permitido ser agnóstico ou se isentar do culto dizendo não ter certeza de como as coisas ocorreram. O ceticismo é já algo suspeito, algo que é prudente manter pra si mesmo. Contra os incrédulos - que negam o número de dogmático de 6.000.000, por exemplo - por toda a Europa foram sancionadas leis penais especiais para punir com prisão a expressão pública de descrença.
João Paulo II professando no rito de Auschiwitz |
Bento XVI no rito de Auschiwitz |