Parte 1
Este artigo
está dividido em duas partes. Primeiro vamos fazer algumas considerações
preliminares principalmente doutrinárias- depois passar para apontar o que é o
movimento carismático.
CONSIDERAÇÕES
INICIAIS
1. O homem
será julgado por Deus sobre a fé, caridade e às boas obras.
2. Deus dá, ao
homem os carismas de maneira gratuita. (Veja
os tipos carismas em Rom. 12: 6-8, 1 Coríntios 12: 7-11, 1 Coríntios 12: 28-30).
3. Não é a
todos os homens que Deus dá a graça de um carisma extraordinário.
4. Se pode
perfeitamente viver uma vida cristã e santa sem nunca ter um desses carismas.
5. Muitos
santos, verdadeiros modelos de virtude, não gostava desses carismas (por
exemplo, Santa Teresa do Menino Jesus, que, inclusive - por humildade - pediu a
Deus para não tê-los).
6. Os
carismas são concedidos pelo Espírito Santo para utilidade do próximo, não para a vanglória pessoal. O carisma
é um dom de Deus, não um mérito do homem. São Tomás diz que a graça é dupla: a santificante que liga o homem a Deus e outra
(a carismática) que ele chama de graça dada gratuitamente “pelo qual um homem
coopera para outrochegar a Deus ... É dada ao homem acima das faculdades
naturais e mérito pessoal ... como diz o apóstolo: “a
cada um é dada a manifestação do Espírito Santo para a utilidade”, isto é, dos
outros.
7. Não
seremos salvos por ter ou não recebido algum carisma, mas seremos responsáveis
pelo bom ou mau uso que fizemos deles, se realmente tivermos recebido.
8. A vida
cristã deve fincar-se na caridade, já que seremos julgados no amor. A aspiração
do católico deve ser em viver na graça santificante, único caminho para Deus. A
salvação é alcançada por meio da fé e boas obras. Lembre-se o princípio e
fundamento de Santo Inácio: “amar e servir a Deus nesta vida, em seguida, vê-Lo
e apreciá-Lo na outra.”Estruturar a vida espiritual em outro fundamento é
errôneo. Se fincar-nos nos carismas, estamos confundindo um meio - um entre
tantos - como se fosse o fim. São Paulo diz: “Se tendo o dom da profecia, e
conhecendo todos os mistérios e toda a ciência, e a fé capaz de remover
montanhas, mas não tiver caridade, nada
sou” (1 Cor 13: 2).
9. O carisma
é um meio (que, como já disse, é para a utilidade e ajudar o próximo). Sendo um
meio, embora extraordinário, não de ser como tal, um entre muitos outros. Ao centrar a vida de uma comunidade ou um
ser humano nesse meio, é desfigurar a vida cristã. Os meios devemter uma
hierarquia como tal e não deve se sobre valorar-se nem se considerar como fins.
As coisas são boas quando se guardam, a justa proporção e no lugar que Deus
preparou para eles. Como diziaChesterton, uma virtude que perde a sua
hierarquia, que se extrema e se desfigura,
torna-se uma virtude louca. O mesmo devemos dizer dos meios, há também
“meios”que sepervertem, tornando-se louco. Portanto, é um erro grave
(independentemente da boa-fé que existe nas pessoas) concentrar a vida cristã nos
carismas extraordinários em vez de dirigi-la para as virtudes cristãs.
10. Os
carismas dados por Deus são bons (eu enfatizo: dado por Deus). Mas quando PROCURADOS ... na realidade serálogo para
aplicá-los para o benefício dos outros, ou serápor um desejo insano do
extraordinário ou para satisfazer uma curiosidade mórbida de sentir-seseres
privilegiados e superiores? Ou um pouco de tudo? Devemos responder isso com
toda a sinceridade. Por que olhar os carismas e focar nossa religião sobre
eles? Não seria isto uma prova de um desequilíbrio? Não devemos deixar que o
Espírito Santo sopre onde quer e não onde nós queremos? A humildade de Santa
Teresinha contrastacom essa atitude. Eu sei que muitos de nossos irmãos fazem
com a melhor das intenções, se deixaram deslumbrar com o sensível, “extraordinário”, e emotivo; Se tem deixado contagiar por
esta psicose coletiva que se retroalimenta entre uns e outros, chegando a
acreditar que o único caminho, a única maneira, a salvação para a Igreja é o
movimento carismático, buscando por ele quetodos os católicos se insiram nele.
A Igreja tem muitos meios – para eclesiásticos e leigos - para levar o homem à
Deus. As diferentes ordens, congregações e organizações provam, ao longo da
história, que há uma abundância de formas de levar o homem à Deus e ao próximo,
no amor. Já ouvi pessoas que consideram o movimento carismático quase como se
fosse o único meio de salvação, daí o seu espírito proselitista, principalmente
nos próprios católicos. Inclusive se sentem incompreendidos por aqueles que não
simpatizam ou não estão dispostos a participar com eles: pensam que têm o
melhor meio-se não o único - da salvação e com a melhor boa vontade quererem
compartilhar com todos, mas ficam desapontados com os demais irmãos que não se
enquadram em seus requisitos. Muitos se sentem uma minoria mal compreendida, o que
os impele a um grande ativismo, as vezes frustrante, já que se baseia mais na
emoção e sensibilidade do que em uma espiritualidade autêntica e genuína. Eles
não percebem que com a sua atitude, eles negam o valor dos vários meios de
salvação dentro da Igreja Católica.
11. Tão grave
como negar toda a intervenção sobrenatural de Deus, é cair na superstição de
encontrar em tudo ações e intervenções extraordinárias do Espírito Santo. Uma
religião que ignora o sobrenatural é como a água desidratada: não existe,
porque nega a sua própria essência. Mas as intervenções extraordinárias são
precisamente o que seu nome sugere: extraordinário.
Os dois extremos são ruins. Nem o ceticismo nem o credulismo. Conforme a fé e as
virtudes, deve julgar-se a origem dos carismas para discernir se eles são
realmente tal. Há mesmo pseudos milagres e pseudos dons, onde estão aspectos
psicológicos do indivíduos ou de histeria coletiva ou mesmo possíveis
intervenções do Maligno. Por exemplo: falar em línguas é um carisma ensinado
por São Paulo, mas também - de acordo com o ritual católico - é um possível
sinal de possessão demoníaca. Assim, a extrema necessidade de discernimento. O
bom senso deve ser separado de qualquer influência emocional ou emotiva, algo
muito difícil para quem fundamenta sua religiosidade sobre eles.