A medida que
a fé vai diminuindo nas almas, a superstição se desenvolve nos espíritos. O
homem não pode viver sem fé. Queira ou não queira, tem de acreditar em qualquer
coisa.
Monsenhor Bougaud
disse em qualquer parte: “O homem tem de
curvar a fronte, e não querendo curvar-se diante de Deus, num gesto de adoração
suprema, prostra-se diante de uma criatura, na atitude de um animal.”
A nossa
sociedade hodierna eleva-se a alturas fantásticas, pela inteligência que
perscruta, analisa e inventa; mas, quando esta sociedade pretende emancipar-se
de Deus, então, sim, desce de seu trono glorioso e envolve-se no mais nojento
dos lamaçais.
O espiritismo
é o ferrete da ignomínia que a decadência moral imprime sobre o nosso século de
progresso material. É como o contrapeso do progresso, porque esse progresso,
não se apoiando em Deus, e não se deixando guiar pela religião, torna-se um
progresso materialista, exaltando a matéria e rebaixando o espírito.
O espiritismo
é o anticristo moderno. Segue seu caminho, atacando e blasfemando, e, vencido
num terreno, refugia-se noutro. Arrancando-lhe a “túnica”, com que se cobre um
dia, reveste-se de outros farrapos, de modo a poder apresentar-se continuamente
em trajes novos e aspectos renovados.
Uma destas
“túnicas” novas é o círculo esotérico ou
exótico. Veremos agora.
I. O que é o esoterismo
O tal círculo
esotérico é um ramo do espiritismo, é o próprio espiritismo, que pretende
atribuir aos homens um poder criador.
O
espiritismo, pelos seus princípios, é deísta,
quer dizer que admite a existência de Deus, mas não a providência de Deus.
Ultimamente,
o espiritismo, pelo progresso que vai fazendo, progresso que prova apenas que é
humano e não divino, cai no panteísmo,ou
sistema que pretendem que Deus é tudo.
Desde que
alguém se afasta da única verdade, vai caindo de erro em erro, pois a verdade é
uma e os erros são muitos.
O círculo
esotérico é como que o panteísmo da
seita espírita. O seu princípio é que o homem, pela sua natureza íntima, é
divino, ainda que sua divindade se conserve oculta pelo véu da carne.
Na doutrina
católica, ensina-se que o homem é um composto de corpo e alma, de corpo
material e alma espiritual, criada por Deus à sua imagem e semelhança.
Sendo a alma
criada por Deus, é claro que a alma não é de Deus e nada tem de Deus, senão a
semelhança espiritual.
O operário é
necessariamente distinto d obra. O operário é Deus, a obra é nossa alma. Um
deve, pois, ser distinto do outro.
Os amigos
espíritas-esotéricos acham melhor confundir operário e obra e dizer que tudo isso é Deus. O homem,
segundo eles, é Deus oculto pelo véu da carne. A carne não passa de um vestido
de Deus. Cada homem é um vestido de Deus.
Que bela
invenção!! E vieram descobrir isso no século XX... Enfim, quem é incapaz de
inventar a pólvora, inventa, pelo menos, um vestido para Deus. E Deus tem que
revestir-se deste vestido, seja este a pele de um zulu ou de qualquer idiota,
pele de um espírita ou de um turco.
Deste
princípio esotérico, os aderentes tiram esta admirável conclusão, que copio
textualmente do seu manual.
“No futuro, a filosofia será alguma coisa
mais do que ginástica mental; a ciência suprirá o materialismo; a religião será
anti-sectária; o homem amará seu próximo com toda justiça e amará o seu irmão
como a si mesmo, não porque espere recompensa, ou tema uma punição post mortem,
ou pelas leis humanas, mas somente porque reconhecerá que ele é uma parte de
seus semelhantes e que eles e os seus semelhantes são partes de um todo e que o
todo é UNO”.
Como se vê o
homem vai subindo... No princípio era um véu de Deus, um vestido de Deus, agora
ja é um pedaço do próximo; e ele com todos os próximos são o próprio Deus.
Vê-se logo
que tudo é panteísmo. O espírita é deísta; o esotérico, panteísta.