Diria,
talvez, alguém que estou exagerando, e que os espíritas não ensinam tal
encarnações sucessivas?
Não há nenhum
exagero. Eis uns versos publicados pelos vivos, mas ditados pelos mortos.
Os espíritas
até publicaram um volume de versos pelos espíritos, intitulado: “ Parnaso de
além-túmulo”, e aí encontramos versos, sonetos, de poetas mortos, que eles
fizeram, voando pelo espaço, ou reencarnando-se em qualquer arara.
Eis um
espécime curioso, feito poeta Augusto dos Anjos, intitulado: “Vozes de uma sombra”. Lá em cima, na
lua, a própria sombra fala, canta e faz até versos! É para romper a monotonia
da lua! Mas escutemos bem:
Donde
venho? De era remotíssimas
Das
substâncias elementaríssimas
Emergindo
das cósmicas matérias.
Venho dos
invisíveis protozoários,
Da
confusão dos seres embrionários,
Das
células primevas, das bactérias.
Venho da
fonte eterna das origens,
No
turbilhão de todas as vertigens,
Em mil
transmutações, fundas e enormes;
Do silêncio
da mônada invisível,
Do tetro
e fundo abismo, negro e horrível,
Vitalizando
corpos multiformes.
Sei que
evolvi e sei que sou oriundo
Do
trabalho telúrico do mundo,
Da Terra
no vultoso e imenso abdômen;
Sofri,
desde as intensas torpitudes
Das
larvas microscópicas e rudes,
A
infinita desgraça de ser homem.
Augusto dos Anjos.
Paremos
aqui. É o bastante para provar que os espíritos, sem juízo neste mundo, não
mudaram no outro.
O nosso
grande poeta já foi larva microscópica, incluída no abdômen da terra... e foi
evoluindo... até ser nômada invisível... depois protozoário, depois ovo de rã,
depois sapo, rato, gato, cabra, boi, cavalo, macaco, e, enfim, homem. É ele
mesmo que o conta... e porque não acreditá-lo? Ele não diz se, sendo macaco, já
fazia versos.
E hoje?
Que será ele? Em que animal ou pássaro se terá ele se reencarnado? Corvo,
rouxinol, bem-te-vi, ou canário?
E estes
pobres espíritas contam tais loucuras com uma serenidade, como se acreditassem.